Sob pressão

Tic-tac. Tic-tac. Os ponteiros do relógio tocavam e ressoavam numa tonalidade baixa. Contudo, para Luís aquele barulho estava insuportável. Parecia um lembrete constante que ele estava em um prazo final que, provavelmente, poderia revirar a sua carreira do avesso. Talvez, por isso estivesse tão nervoso, sem saber o que fazer.

Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. O tempo não para. Mas e aí? Onde Luís buscaria 1 milhão de reais em um prazo tão curto? Realmente, pegaria esse dinheiro? Era seguro confiar na palavra de uma sequestradora?

Na verdade, seguro não era. Porém, Luís não tinha opção. Tinha que confiar nela, porque fazia parte do "jogo". Aquele enredo entre polícia e ladrão não era um cenário novo para ele. As rusgas precoces no meio da sua testa já indicavam a sua experiência. Até por isso, precisaria relaxar, focar e resgatar dentro das suas memórias, uma solução para esse caso. Em mais de 100 casos resolvidos ao longo da vida, certeza que, em algum deles, acharia uma resposta para isso.

E depois de alguns minutos andando de um lado pro outro da casa, pensou numa solução: o caso dos assaltantes da estação de trem. Naquele caso, também foi feito um assalto com sequestro e pedido de resgaste. Só não teve videochamada. Em vez disso, fizeram uma transmissão na tv, durante o jornal da noite. Dessa vez, pediram menos: 100 mil reais em uma semana. E como resolveu?

Bem, naquela vez Luís "forjou" um resgate. Mandou imprimir várias notas falsas com um papel similar ao papel-moeda. Apesar de ser uma quantia grande, conseguiu resolver isso em uma semana, fazendo serões por 3 dias seguidos. Nesse caso, a troca foi bem-sucedida com o detalhe pra vigia à distância dos sequestradores que, ao notarem que foram enganados, saíram revoltados para sua desforra, mas foram rapidamente capturados em uma emboscada arquitetada por, vejam só, Olavo!

"Caramba! Aquele safado tinha a resposta pra esse caso todo esse tempo e não disse porra nenhuma! Que miserável"! Pensou Luís, agora já com uma feição animada, como se tivesse inventado a roda ou a lâmpada. Aproveitou o embalo para ligar pra Olavo e conversar sobre essa estratégia. Seria uma tática viável ou estaria fumando orégano? Devido a hora preferiu ligar depois. O que fez cerca de dois dias depois.

- Olavo, está desocupado? Preciso falar com você, urgente!

- É sobre o caso?

- Sim, é. Você já sabia?

- Bem, eu suspeitava porque estamos trabalhando juntos e também...

- Também o que?

- Bem, recebi uma ligação daquela sua amiga Ana. Parece que a irmã e o cunhado da Letícia, Hermeto acho, estão sumidos. Segundo ela, foi um homem em capuz que os pegou.

- E como ela sabe disso?

- Ela disse que viu por umas câmeras que instalou na casa deles, após o sumiço de Hermeto, a pedido da Letícia. Parecia bastante preocupada com o caso, inclusive. Você tem ideia de quem pode ter sido?

- Hmm, creio que isso possa corroborar com uma teoria que tenho. Você pode me encontrar no Boteco do Zé daqui a uma hora?

- Ok, vou me aprontar pra ir. Até já.

- Até.

Diante desse sumiço, Luís suspeitou imediatamente de Horácio, embora ele estivesse preso em cativeiro. Entretanto, será que poderia estar atuando "em parceria" com os sequestradores? E só toda a história do resgate fosse apenas uma cortina de fumaça para encobrir novos crimes? Se seus instintos estivessem corretos, precisava ser rápido já que Horácio não esperaria, nem tampouco procuraria plateia. Nesse caso, decidiu utilizar "aquilo", enquanto conversava com alguns contatos para, quem sabe, ter uma ação de emergência. Será que suas teorias se provariam certas?

O Andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 24/04/2020
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