Quem quer ser um milionário?
[Continuação de "Dinheiro fácil"]
Sequestrar a mulher de Amitabh Phadanis não foi exatamente uma tarefa das mais difíceis. A senhora Gauri Phadanis tinha uma rotina bastante previsível, que incluía uma ida ao mercado três vezes por semana; as mercadorias adquiridas eram então entregues na residência dos Phadanis por um furgão. Só que, desta vez, no veículo estavam os sequestradores, Abhi Choraghad e Benegal Panikkar.
Eles haviam dopado a mulher com clorofórmio, quando esta viera examinar o manifesto das compras na traseira do furgão, e em seguida colocada dentro do mesmo. A dupla de desempregados seguiu então para o cativeiro, numa favela na cidade de Chennai.
Quando a senhora Gauri despertou, num quarto escuro trancado, compreendeu logo o que lhe sucedera.
- Vocês cometeram um erro! - Exclamou, batendo na porta.
- Não adianta esbravejar, senhora Phadanis - avisou Benegal. - Até a polícia de Chennai tem medo de entrar nessa favela.
- Meu marido não vai pagar o resgate! - Gritou a mulher.
Abhi e Benegal entreolharam-se.
- Como pode ser isso, tia? - Questionou Benegal. - Não vamos pedir nenhuma fortuna ao velho Phadanis.
- Na verdade, o resgate é de 7 milhões de rúpias - especificou Abhi, sacando uma calculadora do bolso. - O que, pelo câmbio atual, dá pouco mais de 97 mil dólares...
- Meu marido não tem interesse em pagar pelo meu resgate, murkha, seja em dólar, euro ou rúpias!
Abhi ignorou o insulto e voltou a digitar na calculadora.
- Talvez devêssemos pedir 10 milhões de rúpias, e ir reduzindo durante as negociações...
- Nada! Zero! - Reforçou Gauri Phadanis furiosa, do outro lado da porta.
* * *
Entrevistado pela imprensa local, o comerciante Amitabh Phadanis foi categórico quanto ao pedido de resgate que recebera pela vida de sua mulher:
- Nós, Phadanis, não negociamos com sequestradores!
- O senhor está admitindo a hipótese de que sua mulher seja morta, conforme ameaçam os criminosos? - Indagou uma repórter.
- Prefiro dizer que confio no trabalho da polícia de Chennai para trazer Gauri de volta, sã e salva!
Entrevistado em seguida, o chefe de polícia da cidade não foi tão assertivo.
- Decerto que o sequestro foi obra de profissionais, mas envidaremos todos os esforços para resgatar a senhora Phadanis com vida.
No cativeiro, sentados ao redor de uma mesa mambembe e acompanhando as notícias por uma TV portátil, Abhi apontou um dedo para Benegal.
- E agora, gênio do crime? O que vamos fazer se o velho Phadanis não quiser pagar nada pela própria mulher?
Ouvido colado na porta do quarto fechado, Gauri Phadanis gritou:
- Eu avisei!
Benegal ergueu-se e deu dois tapas na porta.
- Fale baixo, tia! Porque seu marido não quer negociar a sua liberdade?
- Porque ele quer me ver morta! - Foi a pronta resposta.
[Conclui em "A dança da destruição"]
- [05-01-2020]