Gerenciamento de riscos

Ao olhar para a tela do celular e ver que era Junqueira quem estava ligando, Santiago logo compreendeu que alguma coisa grave acontecera: Junqueira estava na sala ao lado. Pediu desculpas ao cliente, sentado à sua frente, e atendeu a chamada.

- Eles estão vindo - ouviu Junqueira dizer, em pânico.

- Quando? - Indagou Santiago, friamente.

- Até segunda-feira de manhã. Precisamos conversar, urgente.

- Sim. Hoje à noite, mesmo local - redarguiu, antes de desligar. Desculpou-se novamente com o cliente pela interrupção e continuou falando sobre investimentos, como se nada houvesse acontecido.

* * *

Santiago caminhava pela sala de estar do apartamento, copo de uísque na mão, enquanto ouvia Junqueira repassar a informação alarmante de que tomara ciência.

- Foi realmente muita sorte essa sua amiga, na Administração Central, ter tomado conhecimento da vinda do inspetor - ponderou.

- Não foi sorte - desabafou Junqueira. - A Ilma trabalha no setor de emissão de passagens e me deve um favor. Pedi que ficasse de olho na movimentação dos inspetores, já que se algum deles viesse para cá, saberíamos que o alvo era a nossa agência.

- É. Somos a única agência do banco na cidade, portanto é certo que está vindo nos fiscalizar - avaliou Santiago. - Se é uma auditoria de rotina ou se desconfiaram de alguma coisa, não temos como saber.

- Precisamos fazer alguma coisa! - Afligiu-se Junqueira. - Se formos pegos, não vai ser somente demissão, mas cadeia!

- Estou ciente - replicou Santiago, tomando um gole de uísque. - Mas como contava com essa possibilidade, tenho um plano B: nós vamos assaltar o banco.

- Nós?! - Indagou Junqueira, espantado.

- Bem, não exatamente nós... alguém vai fazer isso pela gente - declarou Santiago.

* * *

Os bandidos, fortemente armados, chegaram em duas picapes às duas da manhã; a cidade era pequena e não tinha posto policial. Numa ação rápida, explodiram com dinamite os três caixas eletrônicos da agência bancária e fugiram, antes que os moradores assustados tivessem tempo para entender o que havia acontecido.

Entrevistado pela manhã por uma emissora de TV da capital, Santiago, gerente da agência, enumerou os prejuízos.

- Além dos danos estruturais ao prédio, os bandidos levaram cerca de R$ 1.200.000,00, pois os caixas eletrônicos haviam sido reabastecidos na noite anterior.

- O banco possui seguro?

- Sim, naturalmente. Possuímos seguro contra roubo, inclusive, e apesar de lamentar a ocorrência, fruto da grande violência que assola nosso país e das leis frouxas que favorecem a bandidagem, fico satisfeito que não tenha havido vítimas. O dinheiro pode ser recuperado, vidas humanas, não.

Assistindo à reportagem no esconderijo da quadrilha, o chefe dos assaltantes soltou um palavrão:

- Olha só! Roubamos 200 mil e o cara botou um milhão a mais nas nossas costas!

Pouco tempo depois, alegando que havia ficado traumatizado com a ocorrência, Santiago pediu transferência para a capital. O pedido foi aceito.

- [21-11-2019]