Tatuagem

[Continuação de "Identificado"]

Warwick parou o Ford Taurus em frente ao gramado bem-cuidado da casa suburbana, enfeitada com uma bandeira dos EUA junto à porta de entrada. O bairro era tranquilo, e naquele meio de tarde de um dia de semana de verão, não havia muita gente à vista na rua. Descemos, Warwick de óculos escuros. Ele tocou a campainha.

- Sra. Imogen Stark? - Indagou, quando a porta foi entreaberta por uma mulher loura e magra, cerca de 40 anos, olhar assustado.

- Sim... sou eu - assentiu ela, segurando a porta com força, como se pretendesse fechá-la na nossa cara.

- Agentes Warwick e Jones, FBI - disse ele, exibindo a carteira com o distintivo. - Podemos lhe falar um minuto?

- FBI? - Repetiu ela, com uma expressão de horror. A mão que segurava a porta, contudo, afrouxou a pressão. - Sim, claro... entrem.

Afastou-se para o lado para nos dar passagem. Entramos.

- Desculpem a bagunça... eu não esperava visitas - tartamudeou ela.

Não havia nada pelo que se desculpar. A sala de estar era acolhedora e confortável, com piso de madeira corrida, lareira, e móveis de estilo sóbrio e elegante. Ela nos indicou um sofá revestido de tecido e sentou-se numa poltrona em frente, uma otomana forrada de couro entre nós.

- O xerife Fillmore nos informou que foi a senhora quem reconheceu o corpo. Gostaríamos de saber como fez isso, considerando que ele estava decapitado e com as mãos amputadas - inquiriu Warwick, bloco de anotações e caneta em punho.

Imogen Stark juntou as mãos e baixou a cabeça, como se estivesse recuperando o fôlego. Finalmente, nos encarou e pôs as mãos no colo.

- Foi a tatuagem - explicou ela. - Meu marido tinha uma tatuagem da 101ª Divisão Aerotransportada, no bíceps direito.

- Compreendo - replicou Warwick, anotando garatujas no bloco de papel. - Mas de onde surgiu a ideia de ir procurar o corpo do seu marido no necrotério? Não consta nenhuma solicitação sua à polícia local sobre o desaparecimento dele.

- O que nos leva à uma outra pergunta - aparteei. - O seu marido não estava trabalhando no Texas? Quando ele voltou à cidade?

Imogen Stark olhou longamente para o teto, desta vez. Passou a língua pelos lábios, antes de falar pausadamente.

- Sim, Colby passava três semanas no Texas e uma semana aqui, em Newberry... o trabalho lá era por empreitada. Nós vendemos nossa casa em Peak, pouco depois dele pedir demissão da usina nuclear e compramos esta, na sede do condado.

E desviando novamente o olhar:

- Nós... havíamos discutido na última vez em que ele esteve aqui, mês passado... eu realmente não sabia que ele havia voltado para cá... até que ele começou a demorar muito para dar notícias e... eu liguei para o Texas.

- E então descobriu que ele havia voltado à Peak - sugeriu Warwick, a caneta pressionada contra o queixo.

- Eu não descobri... no trabalho dele, no Texas, ninguém sabia para onde ele havia ido - replicou a mulher, balançando negativamente a cabeça.

Cabeça baixa, murmurou:

- E então surgiu a notícia do corpo decapitado, encontrado em Peak...

Enterrou o rosto nas mãos.

- Eu me enchi de coragem e fui até o necrotério...

As lágrimas começaram a pingar por entre os dedos dela.

Quando voltamos para o automóvel, Warwick me entregou as chaves.

- Você dirige agora - determinou ele.

E, tirando os óculos escuros, passou o dorso da mão pelos olhos vermelhos.

- Odeio ver uma mulher chorando!

Entramos no carro, assumi o volante e dei a partida.

- Para onde, chefe? - Indaguei com deferência fingida.

- Para a chefatura de polícia. Precisamos saber se o xerife já localizou o nosso suspeito... Liam Dixon! - Exclamou ele.

[Continua em "Recordações"]

- [29-07-2019]