Anaconda
Enfim chegou o dia. Era a hora da emboscada para pegar Hermeto. Na teoria, estava tudo nos conformes. Ana havia infiltrado cinco de seus capangas no bairro. Preparara outros tantos para um confronto direto, posto que, apesar da aparência pacata, Hermeto gozava de prestígio na região, sendo muito querido por todos. Estaria pronto pra guerra?
Atento a tudo isso, Luís ligara para Ana mais cedo para saber o seu papel nesse processo. Surpreendentemente, ela o informou que anteciparia a operação, uma vez que pensara que Hermeto poderia, de algum modo, descobrir o que ela planejara.
- Então, tudo certo pra hoje?
- Sim, iniciaremos às 14h da tarde.
- Não era às 17h?
- Mudamos os planos.
- Ok... e por que essa mudança?
- Toda a boa estratégia tem que ter um quê de imprevisibilidade não é mesmo?
- Haha, agora você falou a minha língua...
- Você vai querer participar ou não?
- E vou perder essa festa?
- Certo, o quão bom é você no tiro?
- Bom o bastante pra acertar uma garrafa no topo daquela casa ali.
- Ok, você pode ter duas funções: um, se reunir com os atiradores e preparar-se para o fogo cruzado ou dois, questionar o suspeito. O que você prefere?
- Em geral, eu prefiro ser o atirador, mas nesse caso vou querer questionar o suspeito.
- Não prefere deixar isso pra Letícia?
- Nem um pouco. Casos que envolvem família tendem a tirar a nossa objetividade.
- Mas esse é um serviço que ela pagou.
- Sim, e iremos entregar o suspeito assim que terminar o interrogatório. Não negarei a ela o prazer de questionar o "cunhado", só me anteciparei um pouco...
- Bem, você quem sabe. Nesse caso, vou dizer para você se reunir com a Graziela ali no canto, ela vai ficar de tocaia.
- Perfeito, irei para lá.
Após almoçar por volta da uma e meia da tarde, Hermeto saiu de casa rumo ao bar. Quando faltavam cerca de 700 metros para chegar ao seu bar de costume, Hermeto notou que tinha algo estranho, mas preferiu seguir caminho. Porém...
- Desculpe, mas você terá que vir conosco.
- E quem é você para me dizer isso?
- Não posso dizer.
- É algum capanga do Ronaldo? Porque se for, é desnecessário, eu tenho a grana dele separada para amanhã.
- Não me importo com seu dinheiro só peço que me acompanhe.
- E se eu não quiser?
- Eu nunca perguntei se você queria, só quero evitar confusão.
- Meu caro, aqui é o meu quintal. A piada está com você. Fiuuuu
Após esse assobio cerca de 10 pessoas aparecem para ajudar Hermeto. A situação parecia que ficaria ruim para o solitário homem...
- Gostaria de dizer as últimas palavras?
- Posso?
- Por favor. Sou um homem misericordioso...
E nisso, completando o desenho de uma cobra que discretamente fez no chão, o homem solta um grito do fundo dos seus pulmões:
- Venham cobras!
De trás das casas e prédios, aparece o grupo de apoio e então a confrontação começa. Os capangas de Hermeto estavam armados com paus e facas, enquanto que os de Ana portavam muchacos e correntes. A luta se desenhava feroz para a surpresa de Hermeto, que ainda chamara mais auxiliares, na esperança de escapar daquela algazarra. Quando a maré começara a virar a seu favor, eis que os atiradores de elite entram em ação derrubando um a um dos capangas. Ao final de tudo, Hermeto encontra-se isolado, até que um dos soldados de Ana o derrubou inconsciente no chão. Ao longe, fizeram um sinal para ela que vira com um binóculo. A operação fora um sucesso.
- E... bingo!
- Sucesso?
- Claro, agora iremos a parte boa.
- Com toda a certeza. Mas o interrogatório será aí ao ar livre?
- Não, o levaremos para outro lugar.
- Realmente, parece ser a melhor estratégia...
- Vamos lá?
Luís entrara no carro junto com Ana e alguns capangas, além de um desacordado Hermeto. Enquanto conversava, Luís não observou que o caminho levou a uma casa na saída da cidade, um lugar estranho, que não conhecia. Ao chegarem desceram e saíram do carro.
- Chegamos?
- Sim.
- Ok, vamo lá... ei... o que vo...
Luís caiu desacordado. A porta se abriu e eis que:
- Até que vocês demoraram.
- É, mas entregamos a encomenda. Ele é todo seu.
- E Luís?
- Desacordado, conforme o combinado.
- Ótimo! Hora da gente conversar, "cunhado"...
O andarilho