O sorriso de Próspero

O sorriso espontâneo sempre nos beneficia em nossas relações com os demais. Pedir algo, seguindo ou antecipado por um "por favor", acompanhado por um largo sorriso, produz um efeito muito positivo na outra pessoa. Tem um efeito multiplicador em qualquer tipo de atividade que desenvolvemos. É a principal ferramenta do engenheiro social, na opinião de Virgílio Próspero. O sorriso, em todas as suas formas e usos, era colocado nas suas apresentações sobre programação neurolinguística avançada que fazia na cátedra e agora, realizava também para o seleto grupo de asseclas no presídio federal em que estavam encarcerados. Para ele, o sorriso é uma arma fiel e o exemplo está na história. Passou a relatar então, o que para ele era o episódio mais célebre já conhecido.

Victor Lustig era um professor no campo da fraude, lapidado por anos de golpes e milhares de atos de sedução. Há evidências de, pelo menos 45 prisões, embora ele quase sempre tenha conseguido não apenas ser libertado, mas compensado pelo inconveniente sofrido.

O vigarista tinha uma cicatriz em destaque no rosto, mas sua aparência cuidadosa e maneiras refinadas, entremeadas por sorrisos, eram suficientes para convencer. Ele falava inglês, alemão, francês e italiano e tinha uma cultura requintada, com expressões entremeadas em belos sorrisos. Pertenceu à nobreza europeia, na figura do jovem Conde Von Lustig, do Império Austro-Húngaro, personagem que acabou se popularizando nos transatlânticos que atravessaram a costa europeia no início do século XX. Nestas ocasiões, jogava poker e bridge com os novos ricos americanos. Às vezes, os vencia e às vezes os deixava vencer. Ganhava suas confianças, como se consegue respirar profundamente, após uma tragada de um bom charuto cubano. Descobriu desde cedo que o luxo e as mulheres eram um bom plano para passar o resto de sua vida, mas também bastante perigoso: aos 19 anos, sofreu a primeira consequência de sua aposta hedonista quando um namorado ciumento o marcou para sempre, cortando sua bochecha, com uma faca. Tal como acontece com as melhores lendas, existem várias versões para cada um dos episódios da sua vida. Houve quem afirmasse que convidava casais no transatlântico para jantar e, entre champanhas e diversões, Lustig entretinha as esposas até onde as boas maneiras permitiam, e somente no final da viagem, quando já tinha ganho a confiança delas, ele as arrebatava, uma a uma, nos hoteis mais luxuosos da cidade visitada.

Foi sorrindo que Víctor Lustig se tornou um dos trapaceiros mais astutos e famosos da história. Foi ele quem vendeu a Torre Eiffel duas vezes e nunca foi preso por isso.

Em 1925, Lustig vivia em Paris, liderando um grupo de sua confiança em vários golpes de pequeno porte. Então, leu uma reportagem na imprensa local que falava sobre os gastos excessivos que a Torre Eiffel trazia para os cofres públicos da cidade. Atento sempre a todos os sinais que poderiam levar a uma fraude, Victor Lustig partiu para perpetrar o golpe mais extraordinário já concebido: vender a Torre Eiffel.

Preparou uma identidade falsa como funcionário público nomeado para a incumbência. Depois, usando nomes falsos e selos oficiais adulterados, ele se encontrou com seis dos mais importantes comerciantes de sucata da Europa.

Com sorrisos na face marcada, Lustig explicou-lhes os problemas que a cidade estava passando com a Torre Eiffel, através de verdadeiros recortes de jornais e relatórios fictícios. A conclusão desse drama era óbvia: o conselho da cidade parisiense precisava se livrar de seu maior monumento e decidira vendê-lo como sucata, por um preço justo para sete mil toneladas de puro aço. Como bom profissional de golpes, Lustig não os pressionou, nem lhes deu mais informações. Levou o grupo numa limusine para comer num excelente restaurante, deu-lhes presentes, e por fim, fizeram a visita oficial à Torre Eiffel, na qual seus cúmplices estavam de prontidão para abrir o caminho para onde quer que fossem, coroando o ardil de requinte. Cativado pelo negócio, André Poisson, um comerciante de sucata bastante ambicioso, numa reunião individual, queria ganhar o negócio e Lustig sugeriu suborno. Feito o acordo, Lustig sumiu com 650.000 francos para a Áustria.

Assim que o golpe foi descoberto, a vergonha era tamanha a todos e, diante de suborno, impediu a queixa do lesado e dos demais.

Oportunamente e contrariando a regra básica de não repetir o mesmo golpe duas vezes, Lustig decidiu voltar a Paris para vender a Torre Eiffel pela segunda vez. Ele repetiu os mesmos passos com um nome diferente e novos cenários, mas conseguiu de novo. No entanto, os empresários lesados decidiram relatar o ocorrido. Com a investigação policial, restou a Lustig fugir para os EUA.

Em New York, na Broadway, ganhou quase US $ 40.000 como produtor fictício, vendendo os direitos de um musical que nunca existiu.

Nos EUA, Lustig lançou outro de seus sucessos mais originais, o da "caixa romena". Foi uma "invenção extraordinária que fez dinheiro". Segundo algumas fontes, um pedaço de papel em branco das dimensões de uma nota era inserido e a máquina cuspia uma nota perfeita de US $ 100. O truque era que o artefato levava de seis a oito horas para cuspir a nota "copiada". Então Lustig carregou-a com notas de duzentos ou trezentos reais e procurou as vítimas prefeitas, em geral, empresários de classe média com ambição suficiente para querer "fazer" mais dinheiro do nada, imersos num cenário de cortesia, sorrisos e diversões caras. A cada demonstração, as notas expelidas eram levadas a um banco que qualificava a sua autenticidade. Assim que fechados os acordos do dia, o vigarista fugia depressa, aproveitando-se da vantagem de menos de vinte e quatro horas, até que as máquinas terminassem de expelir as poucas notas que continham em seu interior.

Mas Victor Lustig não era apenas uma habilidade para trapacear, mas também para escapar. Em várias ocasiões, ele conseguiu escapar da polícia: em 1934, conseguiu estrelar uma fuga na prisão no estilo mais clássico, pendurado em uma janela por "teresas", as tiras amarradas de lençóis. No entanto, assim que foi preso alguns anos depois, a sentença foi bem mais severa: ele foi mantido em Alcatraz, onde se tornou amigo de um velho conhecido, Al Capone. Lá ele morreu de pneumonia em 1947, aos 57 anos de idade com a fama de ter faturado mais de cem milhões de dólares ao longo de sua vida, de criar a máquina de copiar dinheiro e de vender a Torre Eiffel. Não uma, mas duas vezes.