Vísendakona

[Continuação de "Blóm"]

[Fyrirvari: þessi smásaga er hluti af áframhaldandi og óunninni sögu sem gerist á Íslandi]

A policial Kristensa Saivinsdottir foi quem a viu primeiro.

Kristensa e o parceiro, Adriel Gudfinnursson, estavam encostados do lado de fora do automóvel oficial, um Volvo V90 Cross Country, aguardando a chegada da balsa provinda de Landeyjahöfn. No verão, as ilhas Vestmannaeyjar recebiam um considerável afluxo de turistas oriundos do "continente", e a comandante do distrito policial responsável pelo arquipélago determinara uma patrulha de rotina na chegada da embarcação. No que tocava à dupla, isto significava três vezes ao dia estacionar a viatura próxima ao portão de desembarque, e ficar observando quem saía, para tentar detectar algum comportamento suspeito.

- A comissária acha que temos o "sentido aranha" do Peter Parker? - Questionou Gudfinnursson, enquanto bebericava café num copo plástico.

- A comissária deve saber o que está fazendo - retrucou Saivinsdottir, braços cruzados, expressão concentrada, enquanto observava os turistas emergindo ordeiramente do grande barco branco.

- Aposto que isso nem foi ideia dela... parece ser coisa daquele inspetor Halldorsson - sentenciou Gudfinnursson, terminando de beber o café e amassando o copo. Olhou ao redor, e ao avistar uma lixeira à cerca de 20 m da viatura, dirigiu-se para lá, deixando a parceira momentaneamente só. Quando retornou, instantes depois, percebeu o olhar vidrado dela.

- O que foi? - Indagou, preocupado.

- Olha lá - retrucou Saivinsdottir, sem desviar a atenção.

Gudfinnursson olhou para o ponto no qual ela estava concentrada. A princípio, não notou nada de anormal, fora o desembarque de turistas, que prosseguia. Finalmente, percebeu o que ela já havia notado: uma mulher idosa, vestido longo cinzento, parada no meio do fluxo de passageiros que desciam do navio. Era como se fosse uma pedra, dividindo a correnteza de um rio. Finalmente, parecendo despertar de um transe, ela começou a andar, lentamente. Foi uma das últimas a pisar no cais.

- O que lhe parece? - Indagou Gudfinnursson.

- Acionou o meu "sentido aranha" - retrucou a parceira. - Vamos lá, dar-lhe as boas vindas à ilha.

Os policiais acercaram-se da mulher sem pressa, já que ela parecia os estar aguardando.

- Bom dia, senhora. Bem-vinda à Heimaey. É a sua primeira vez nas Vestmannaeyjar? - Indagou afavelmente Saivinsdottir.

- Bom dia, policial - respondeu calmamente a visitante, cravando nela seus olhos muito azuis. - Não, não é a primeira vez em que venho ao arquipélago; embora nunca tenha vindo num momento tão sombrio quanto este.

E antes que os policiais pudessem dizer alguma coisa, indagou em tom casual:

- Vocês tiveram alguma ocorrência de desaparecimento de corpos aqui, recentemente?

* * *

- Salóme Sigtryggsdóttir, de Varmahlid - leu o inspetor Halldorsson no documento de identificação da mulher, conduzida pela dupla Gudfinnursson-Saivinsdottir ao posto policial da ilha. Ela balançou a cabeça em concordância, ao ouvir o próprio nome.

- Eu mesma.

- A senhora fez uma pergunta aos policiais que a trouxeram aqui, sra. Sigtryggsdóttir... algo que não foi publicado na imprensa e cuja investigação estamos mantendo sob sigilo. Como soube do acontecido? Quem lhe passou a informação? - Questionou com firmeza o inspetor, dedos entrelaçados sobre sua escrivaninha.

- Há outros meios de descobrir informação que não passam, necessariamente, pela mídia - respondeu a mulher, sem se abalar.

- Imagino que esteja referindo-se à internet - especulou Halldorsson.

- Estou falando de meios que nada têm a ver com a sua tecnologia de computadores e satélites - declarou Sigtryggsdóttir, encarando o policial nos olhos. - Eu tomei conhecimento de que algo extremamente grave está para ocorrer nesta ilha, com possíveis repercussões para toda a Islândia, e resolvi conferir por conta própria. Quando desembarquei aqui... bem, não julgava que o problema já estivesse tão avançado.

- Do que estamos falando precisamente, sra. Sigtryggsdóttir? Alguma ameaça terrorista? - Sondou Halldorsson.

- Pior, muito pior, inspetor - retrucou serenamente Salóme Sigtryggsdóttir. - O delicado equilíbrio existente entre o mundo dos vivos e dos mortos, está para ser quebrado. O seu desaparecimento de corpos é só o primeiro sintoma. A coisa vai ficar muito, muito pior.

- Objetivamente, sra. Sigtryggsdóttir... sabe quem está por trás do roubo dos corpos?

- Ainda não tenho nomes, se é isso o que quer saber, inspetor - replicou Sigtryggsdóttir. - Mas pretendo passar algum tempo aqui e descobrir. Aceita a minha colaboração?

Halldorsson distendeu os dedos, antes de responder:

- No momento, estou aceitando toda a colaboração possível para solucionar este caso, sra. Sigtryggsdóttir.

[Continua em "Verkefni"]

- [02-01-2019]