Luís, tem 58 anos, mora nos fundos de um cortiço, num quartinho 3X3,5, um banheirinho minúsculo com uma privada e um chuveiro frio. Escova os dentes na pequena pia da cozinha ao lado da TV. Trabalha desde menino com madeira, ofício que aprendeu com seu avô. Já fez até móveis para barcos de luxo e possuiu condições melhores de vida. Porém, ao se separar deixou a casa para ex-mulher e  seu três filhos pequenos. Hoje, todos estão casados e andam por aí, nesse mundão de Deus com suas famílias. Luís, ainda continua seu ofício e costuma jogar sinuca no bar do Vantuil , baiano de Feira de Santana, ocasião em que bebe bastante. Mas, não todos os dias. Depois volta ao seu barraco e dorme. Quando precisa de mulher vai até a Vandinha, uma mestiça, de uns vinte e poucos anos que mora próxima a ele, muito carinhosa, faz tudo que Luís gosta. Tá certo, cobra! Mas, Luís prefere pagar, assim acredita não criar vínculos. Ele gosta de Vandinha e toda semana, deixa parte do salário que recebe com ela. Às vezes ela atende o telefone e diz para Luís parar de beber. Nessas horas, ele finge que a escuta. Ele não quer parar de beber, nem de fumar. Não possui quase alegrias em sua vida, se parar, acredita que morrerá! Vandinha lhe disse, que seu irmão tá pra sair da cadeia. O vagabundo se chama Juvenal, foi preso por causa de um roubo. Luís disse pra ela: - Num deixa ele vir pra cá não, hein... 
     No dia seguinte, Luís, foi fazer um serviço numa cidade próxima. Armários embutidos na casa de um empresário. Depois de alguns dias, retorna. Quando Vantuil lhe diz:
- Véio... O vagabundo do Juvenal tá na casa da sua queridinha, bate nela todo santo dia, e o pior, faz dela mulher dele. (Ao ouvir tais palavras o sangue fervendo sobe à cabeça de Luís).
- Puta que pariu, esse filho da puta, tá comendo a própria irmã, porra! Vou matar esse desgraçado!
- Vantuil, cê ainda tem aquele revólver pra vender?
- Luís, tenho sim. Mas, não vou te vender não, que você vai fazer merda!
- Rapá, te pago mil reais, o dobro do que você tá pedindo.
- Tá bem, mas olha só, a munição tá velha e eu só tenho três cartuchos.  Outra coisa, eu não te vendi nada, hein..., (avisa Vantuil).
- Fechado, me dá essa porra assim mesmo.
 Às 19:00, Luís vê Juvenal entrar no portão de Vandinha, vai atrás.
- Peraí rapá! Quero falar contigo.
Ah, vai ver que é o velho babaca, que a piranha da minha irmã toma um dinheiro.
- Fala sério véio, o que foi?
- Velho é o caralho!
     Luís saca a arma e efetua três disparos, um deles transpassa a porta de aglomerado da casa de Vandinha e a atinge em cheio no peito, os outros dois ele quase acerta. Mas, erra! Juvenal então, evapora como um raio do local. Luís, ouve um grito e adentra ao barraco. Ao ver Vandinha numa poça de sangue caída ao chão, o mundo despenca sobre sua cabeça. Ele então, prostra-se sobre o corpo da amada. Algumas horas depois, sirenes tocam. Luís, é retirado algemado e com as roupas sujas de sangue de dentro da casa. Um dos detetives encontra a arma do crime e a coloca dentro de um saco plástico. Vantuil, assiste a tudo de longe e decide imediatamente retornar à Bahia.



                                                      Mato Grosso, Setembro de 2014.


Nota: aglomerado, espécie de pó de madeira prensado com cola para fazer móveis de baixa qualidade. Revisão: CSVF