A BOINA VERMELHA, O PEQUI E O ZEZINHO.
A BOINA VERMELHA, O PEQUI E O ZEZINHO.
Este é mais um ¨causo¨ que não me sai da lembrança. É um causo corriqueiro que aconteceu no Mercado Central de Belo Horizonte, na década de 90, e, que acredito ainda acontece até hoje por aqui, uma vez que a moda ainda é usar boné ou boina, e neste tempo o Pequi está à venda, sem contarmos com a presença de muitos Zezinhos vendendo esse fruto amarelo e cheiroso, abundante nas terras de Minas.
O ¨causo¨é o seguinte:
Os bravos policiais-militares mineiros patrulhavam em policiamento as proximidades do Mercado Central, em um ensolarado domingo de janeiro de 1990. O garoto esperto Zezinho vendia Pequi num carrinho de mão. O malandro ficava indo e vindo, subindo e descendo a Rua Padre Belchior, observando as pessoas que passavam e que adentravam ao Marcado ou que simplesmente aguardavam o ônibus com alguma finalidade.
Zezinho propagava seu produto cantarolando:
Coça aqui... Coça lá...
Que vontade de coçar...
Aqui todo mundo compra,
Aqui todo mundo vende,
Malandro não compra,
Malandro cigarro acende.
Seu turista olhe o bolso,
De malandro o Zezinho entende,
Dona Maria o Pequi é um colosso,
Seu Zé: Pequi na Maria, entende?
Olhe o fruto amarelo, enche a bacia,
Olhe o Pequi seu Zé e dona Maria.
Aqui alguém usa boina cor de melancia.
E assim o tempo ia passando. Muita gente comprando. Muita gente só espiando. Os policiais trabalhando. O Zezinho cantarolando. E o malandro só furtando.
De repente alguém gritou: ladrão... Pega ladrão... Polícia!
E foi aquele corre-corre... Gente correndo pra lá... Polícia correndo pra lá e pra cá... O Zezinho, atento aos acontecimentos, na escuta e de olhos bem arregalados, só espiando e só escutando.
Alguém gritou: polícia, o ladrão adentrou ao Mercado. Os policiais gritaram uns para os outros: fechar o cerco. Cercar o Lourenço. E três PM adentraram ao Mercado correndo. Passado alguns minutos eles voltaram para a porta e o lugar do furto segurando o malandro pelos fundilhos das calças.
Aí, apareceu uma senhora da melhor idade, aproximando-se dos policiais e dizendo: foi este malandro que me furtou o dinheiro. Foi este safado ladrão que saiu correndo com o dinheiro, e, avançou para o meliante e deu-lhe uma sobrinhada nas costelas. Os PM agiram dizendo à mulher que o caso já estava sendo resolvido.
Então, os policiais fizeram uma busca no larápio. Fizeram ele ficar só de cueca. E nada do dinheiro. Aí o Zezinho que a tudo assistia de longe resolveu participar e passou perto dos policiais cantarolando:
Passa aqui... Passa lá... Que vontade de coçar!
Quem usa boina vermelha. Costuma ser boa freguesia.
Se eu fosse guarda-freio, a boina eu olharia.
Um dos PM captou a mensagem e disse, olhando para a boina do meliante:
- Tire a boina da cabeça!
E o dinheiro estava em cima do cocoruto do ladrão, no meio dos seus fartos cabelos.
E o ¨causo¨ terminou com a senhora recebendo seu dinheiro de volta na delegacia, o ladrão recebendo sua ração de almoço todos os dias com dois frutos de Pequi no meio do arroz branco e o Zezinho feliz da vida, pois, todos os dias a senhora comprava boa quantidade desse fruto gostoso e cheiroso da natureza, em sua mão.
F I M
Luiz Gonzaga Limagolf