Bira
Era um mês de agosto, muito frio, Bira estava encolhido num canto da cela. Olhava na direção dos seus companheiros, mas seu pensamento estava bem longe dali. Pensava em como tinha chegado ali naquela cela suja e fria do Complexo Policial de Itabuna.
Lembrou-se da infância pobre no bairro Maria Pinheiro quando teve que deixar a escola para trabalhar na feira do São Caetano. O dinheiro que ganhava era pouco e não dava para comprar muita coisa. Esse era um dos motivos das surras que recebia do pai quando este estava embriagado:
– Fi dua égua, tu gastou do dinheiro na rua foi?
Quando chegava em casa e percebia que o pai estava bêbado, voltava correndo e só voltava no outro dia. Mas só aprendeu a fazer isso depois de algumas surras.
Na rua, Bira sobrevivia do jeito que podia: fazia pequenos furtos, pedia dinheiro às pessoas, fazia pequenos serviços para os feirantes, enfim fazia tudo que lhe desse algum dinheiro ou algo para matar a fome. Ate que conheceu Zé Paulo. Na verdade, Zé Paulo já o observava a algum tempo. Achava que Bira daria um bom “avião” para sua “boca” no Daniel Gomes.
Aos dezoito anos de idade Bira se transformara em homem de confiança de Zé Paulo, era ele que comandava todos os “negócios” que giravam em torno da distribuição da maconha, do crack e da cocaína por toda a região dos bairros Maria Pinheiro, Pedro Jerônimo, São Pedro, Fonseca e Daniel Gomes.
Bira era muito respeitado em sua área. Não perdoava devedores e tampouco tinha inimigos pois, eliminava todos que se opunham a ele.
O negócio do tráfico era tão lucrativo que Bira fazia questão de mostrar o que tinha dinheiro e muito: só usava as melhores roupas e sapatos, além de possuir uma gorda conta bancária.
De repente uma voz interrompeu seus pensamentos e o traz de volta à cela fria e suja:
– Sr. Ubiratã da Silva – Era o policial civil Jacob que o chamava para o interrogatório.
Ele se levantou e se dirigiu à porta de saída de cela. O policial o algemou e o conduziu a uma sala onde já se encontra o delegado João Sarmento sentado atrás de uma mesa grande e de aspecto desbotado. O agente tirou-lhe as algemas e o fez sentar numa cadeira à frente do delegado. Bira achou aquela situação um tanto estranha, mas continuou calado. Quem falou primeiro foi o delegado:
- Escute bem seu Bira, sabemos que você estava ganhando bastante com o “negócio” lá na sua área. Então vou ser bem direto: me diga quanto você tem e tu pode sair daqui ainda hoje.
Logo em seguida Bira foi levado pelo policial Jacob até a agência do Bradesco da Praça Adami, onde tinha uma conta bancária em nome de sua mãe, sacou dez mil reais e entregou ao Policial que partiu no Meriva da Polícia civil.
T.C.
Texto escrito em 15/07/2006.