Memórias de um valente Taxista!

Memórias de um valente Taxista!

Nosso personagem de hoje era um lutador. Seu nome Jair Kalempa. Caçula de cinco irmãos e uma irmã, ele começou desde cedo a trabalhar. Primeiro no bar de um simpático casal de japoneses- Sr. João e Da. Maria Shibata. Onde o conhecemos. Sobre esses japoneses temos muitas histórias. Uma delas é quando saíamos do ginásio corríamos ali pedir água.

-- Seu João! Dá um copo d`água? Todos os dias a resposta era a mesma.

-- Água num tem! Água num tem!

Aquilo para nós era uma festa. O jeito de o gordo velhinho responder. E se a gente chupasse um sorvete e quisesse repetir a dose, lá vinha os conselhos de Da. Maria Shibata:

-- Chega ! Uma já tá bom!

Logo depois, Jair passou para o bar de seu irmão Waldemar, bem em frente aos japoneses. Depois foi trabalhar nas casas Santa Terezinha, loja do prefeito Gabriel Manoel. Ali conheceu sua esposa. Como todos os irmãos, Jair deu um bom motorista.

Quando as lojas fecharam.- Numa delas, Jair foi até gerente. Jair vai ser motorista de Táxi. Trabalhou muito nessa profissão e nas horas vagas, corria até o Paraguai e dava uma de sacoleiro. Vivia muito bem com a sua família, ao lado de Da. Neide que tinha passado de telefonista a Secretaria do Colégio Miguel Dias. E muito lhe ajudou. Eles criaram seis filhos, três homens, um com problemas especiais, e três mulheres. E formaram uma bela família. Jair era político, aprendeu com o Gabriel Manoel, morou perto do Zé Bueno, outro prefeito e negociava muito bem. Trabalhou no comércio a vida inteira.

Nossa cidade é muito pequena, todas as pessoas se conhecem e sabem tudo da vida alheia. Quase nunca acontece nada de novo. E quando acontece uma tragédia toda a cidade fica alarmada. Ah! Se pudéssemos ler o futuro. Teríamos evitado o fim do nosso saudoso amigo.

Dia 23 de agosto de 2002, Terminal rodoviário de Joaquim Távora, norte do Paraná. Jair está com seu Táxi parado em frente. Era um Monza azul escuro. São 17 horas, aproxima-se do carro um rapaz chamado Marcos, que já era conhecido de Jair,

-- Boa tarde, Jair! Será que dá para fazer uma corrida até Ribeirão do Pinhal? Vamos a um aniversário!

-- Claro que dá, vamos embora! – responde o pobre Jair, de nada sabendo...

-- E o preço?

-- Quarenta e cinco reais, tá bom? – pergunta Jair.

-- Sim, vou chamar meus colegas na rodoviária! - avisa o rapaz.

Marcos entra na rodoviária, onde bebiam cerveja, e volta com os dois amigos. Esses, Jair não conhecia. Depois ficaram sabendo que eram dois bandidos Célio (menor) e Renato. Marcos senta no banco da frente. E rumaram para Ribeirão do Pinhal, todos calados. Antes de chegar em Jundiaí do Sul, logo depois do trevo, Célio que estava atrás de Jair, coloca uma faca no pescoço do taxista.

-- Isto é um assalto, queremos que nos passe o dinheiro!- disse o rapaz.

Jair apavorado segurou a faca com uma das mãos e com a outra mão jogou a carteira para fora do carro. Enquanto isso, Renato que estava atrás de Jair, deu-lhe um tiro no pé do ouvido esquerdo, que atravessou e arrebentou o maxilar superior, o carro bateu no barranco e parou. Depois disso, no burburinho da luta, ouve ainda um tiro acidental que pegou no carro. Eles saíram do carro e pegaram a carteira. Um deles disse:

-- Acabe com a vida dele! Dê mais um tiro, Renato, você que já começou! – gritou Marcos.

Renato, desferiu mais um tiro na nuca de Jair, a distância de um metro do carro. O pobre coitado, mesmo jorrando sangue não perdeu a consciência. Jair gritou o que pode por socorro. Os bandidos fugiram pela mata até a ponte sobre o rio das Cinzas. Dali atravessaram a ponte e se enfiaram na mata até Guapirama. Tentando comprar alguma coisa numa padaria, foram reconhecidos, dedurados, e presos às 20 hs do mesmo dia.

Logo chegaram quase juntos um caminhão que vendia doces e o Sr. Tarcizo dos Santos que imediatamente, pelo celular, pediu socorro para a ambulância vinda de Jundiaí do Sul. Ligou para o hospital, para a delegacia, e para os parentes da vítima. Belo gesto desse ex-prefeito. Verdadeiro herói. Levado para Cornélio Procópio, onde permaneceu na UTI, os médicos disseram que ele sobreviveu por milagre.

Jair conseguiu viver mais alguns anos. Até voltou ao seu trabalho de taxista, mas as sinistras seqüelas do assalto, vieram tirar sua vida. O projétil que atingiu seu maxilar complicou sua saúde. E o valente taxista nos deixou no dia 24 de março de 2007.com 61 anos.

Um belo esforço, lutou pela vida, mas infelizmente não conseguiu.

Theo Padilha, 3 de abril de 2009 – (Detalhes desta história, foram fornecidos pela Sra. Neide Kalempa, esposa de Jair)

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 03/04/2009
Reeditado em 06/07/2010
Código do texto: T1521331
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