HOT DOG SUSPEITO
Com a roupa suja de sangue, a cabeça alucinada e a respiração ofegante, Rafael entrou esbaforido no escritório do Dr.Fernando, o melhor advogado criminalista da cidade.
- Doutor, doutor!
- Bom dia Rafael. - O advogado cumprimentou-o, olhando por cima dos óculos de metal.
- O senhor precisa me ajudar!
- É claro. Diga-me: o que foi que aconteceu?
- Eu acabo de matar minha esposa!
O advogado continuou sentado, na mais perfeita tranqüilidade, como se tivesse sido comunicado do resultado de um jogo do campeonato. Ele então perguntou:
- Quando aconteceu isso?
- Foi hoje de madrugada. Nós tivemos uma discussão, eu perdi a cabeça e apunhalei-a diversas vezes com essa faca. - Rafael mostrou na mão o objeto do crime, uma lâmina cortante, com uma parte brilhando na claridade e outra tingida de sangue vermelho-escuro coagulado.
- Hum... Entendi. Onde está o corpo?
- Deixei o corpo dela no quarto.
- Você avisou a Polícia?
- Não.
- Ótimo... Você falou sobre isso com mais alguém?
- Não senhor. Na hora fiquei apavorado sem saber o que fazer. Eu resolvi esperar amanhecer e então vim direto para cá.
- Você agiu bem... Tinha mais alguém na casa ou algum vizinho por perto?
- A empregada já tinha ido embora e acho que ninguém viu nada... Mas meus vizinhos sabiam que eu estava ameaçando ela há algum tempo e certamente eles vão me acusar pelo crime.
- Alto lá... Não é bem assim! - O advogado afirmou.
- Como assim, doutor?
- Seus vizinhos estão apenas ‘suspeitando’ que você teria motivos para ter matado sua esposa. Mas isso é impossível...
- Por que doutor?
- Porque na hora que o assaltante entrou na sua casa e assassinou sua esposa, você estava na residência de um amigo.
- E essas manchas?
- Você estava comendo um hot dog. Tanto é verdade que sua roupa está manchada de ketchup.
- Puxa doutor, muito obrigado por sua orientação!
- Sem problemas, estou aqui para isso. Agora, por favor, livre-se dessa faca e sente-se aqui. Vamos montar sua estratégia de defesa e negociar meus honorários...