O PORTÃO DA VILA MIMOSA (alguns recantistas vão se achar por aqui)

 

Ano de 1967, portão sempre aberto, dezenas de quartos no cortiço, que misturavam odores de sexo, insenso e tabaco. O porteiro gorgetado do antro de meretrício,  chamava-se Olavo, forte, salivante e com uma venda negra de pirata, no olho direito. 'Acidente de percurso', numa batida policial...ossos do ofício. A Vila Mimosa, tinha muitas histórias segredadas e silêncios abrasivos.

 

Vielas com celas sem grades, cortinas que eram portas e, janelas só ao rés do chão. Submundo do prazer pago e imundo, beirando à mendicância. Tendo Moacir Jadel como carcereiro do pecado, a gasta Belle Noir como 'Mamãe' e a branquinha Nádia Juli, como orientadora das 'meninas' largadas. Apenas Lumah ainda era casta, vivendo no limbo, entre a proteção de Olavo e o respeito e cuidado de Cris, a vadia mais antiga. 

 

Lumah apareceu no portão, assustada, suja, molhada de chuva, descalça e chorosa, com dez anos de idade. Fugira de um lar de violência e drogas. Por que motivo, ninguém sabe, mas, Belle Noir e Cris, lhe acolheram, cuidaram dela e arrumaram uma professora, para educar a menina, mantendo a pequena afastada do que acontecia nos quartos.

 

Aos treze anos, um 'cliente' de uma madrugada chuvosa e com pouco movimento, tentou sair sem pagar o programa com Cris, sendo abordado por Olavo, mas, uma '22 prateada' surgiu na mão do camarada. Como que vindo do nada, Lumah o desarma e, apontando o cano curto pra ele, o coloca pra correr. Entrega a prateada '22' pra Olavo, pergunta se Cris está bem, ela diz que sim, então, ela se afasta e volta ao quartinho onde vive, que desde o segundo dia dela ali, ganhara uma porta com chave.

 

O aposento ficava atrás do portão da Vila Mimosa, longe do que rolava nas outras celas com portais de cortinas. Depois do acontecido, se tornou a filha pura e protegida, que teria um futuro muito diferente. Com a contribuição de Olavo, Moacir Jadel, Nádia Juli, Belle Noir, Cris e também das diversas meninas, a vaga em um colégio interno por cinco anos, noutra Cidade, a aguardava. 

 

A menina cresceu, conseguiu um bom emprego, casou e teve filhos, um menino e uma menina, mas, a pedido de seus protetores, só mantinha o contato com eles, através de cartas e fotos, para garantir a privacidade do passado dela. O reconhecimento de seu respeito por eles, foi ter dado à sua filha, o nome de Roberta Flor Mimosa.

 

 

 

 

 

** O continho, é só pra agradecer o carinho dos amigos do Recanto, tão atenciosos🤩 neste período, que por causa da saúde, ainda estou afastada 💋 Deus guarde a saúde de todos.

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 09/05/2024
Reeditado em 11/05/2024
Código do texto: T8059327
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