A Casa Campos
A fama da Casa Campos corria léguas e léguas, sem tréguas. Situada no miolo urbano de Pitangui vendia de quase tudo no ramo de tecidos, guarnições e muito mais. Nos meus cinco ou seis anos, vindo do Brumado na cola de papai, maravilhei-me com pelotas de chumbo de vários calibres exibidas em seu balcão, terror de perdiz e de perdigão...
O dono, Sêo Inácio Campos, por aquela época já ia se afastando das lides, confiadas crescentemente à filharada que fazia e satisfazia as vontades da enorme clientela. Darcy, competente a aliciante vendedor era o gerente, capitaneando irmãs, cunhados e agregados no atendimento ao público e a fornecedores. Geraldo, embora figura simpática e bonachona, além de sempre bem-vestido, e frequentador contumaz de bailes da cidade, mantinha-se a certa distância do burburinho, passando a impressão de mero folgazão. Tinha seus problemas, conectando pouco lucro e prejuízo...E tinha a cabeça nas musas da cidade.
Numa determinada ocasião, um fazendeiro frequentador contumaz da loja, que entabulava com Darcy uma compra vultosa de tecidos e acabamentos para o enxoval da filha casadoira, teve o papo interrompido por uma chamada telefônica de certa urgência. Atento, como era seu costume, o pai Inácio, incontinenti, tomou-lhe o lugar para o completo deleite do freguês...
Ao cabo da operação, exitosa e de comum agrado, o fazendeiro confidenciou ao venerável Dom Inácio:
- Ô Sô Inácio, esse seu moço Darcy é competente demais, além de tratável e gente boa, boa prosa e de expediente...cê podia dar ele pra mim pra ajudar lá na fazenda por uns tempos...tanta coisa pra fazer, e com o expediente dele então...
Ao que Inácio respondeu, sem pestanejar:
- Sêo Gumercindo, do Darcy eu não posso dispor, ele é meu braço direito aqui..., mas eu posso lhe dar o Geraldo...
E Gumercindo com toda a sua pureza de homem do campo obtempera:
- Ah, não Sêo Inácio, bobo por bobo, a roça lá tá cheia...