O cafezal de papai
Com pouco o sol nasce e, se projetando no quintal, permite-me ver espalhado, o bananal. Uma meia centena de bananeiras, mais espaçadas hoje...prata, na quase totalidade. Já meio degenerada pelo tamaninho dos cachinhos...
E de pensar que no tempo de papai, quintaleiro obreiro depois de sua aposentadoria da fábrica de tecidos, logo ali atrás das altaneiras bananeiras vicejou um cafezal. Modesto, mas que diferença fazia, tanto que na floração, luzia.
Anos noventa foi o seu auge. Papai chegou a exportar, não o grão, mas já secado, torrado e moído, para Cingapura, onde eu me encontrava lotado junto à Embaixada. Sem rótulos, sem especificações impressas e certamente sem a detecção nossa CACEX, e das autoridades aduaneiras da rigorosa Cingapura. E uma boa libra e meia. Que daria um quilo inteiro se submetida à balança da Barraca do confrade recantista Queiroga...
E o casal Winardi, Hendra e Hedi, amigos indonésios de São Paulo, amigos de mana Bebel e de seu marido indiano lá residentes, foi que me transportou aquele mimo do velho. Aprovei antes de o provar...Vintage coffee.
Com o tempo, e o avançar dos anos, papai, já octogenário, resolveu dar um fim ao cafezal também já erado. Condigno, sem alarde. Sem o estardalhaço daquela queima monumental imposta por Getúlio nos albores dos anos trinta.
E o bananal recuperou seu terreno. Mas dois pés de café conseguiram a proeza de escapar à de(x)terminação de papai. Um, bem escusado, misturado à macega vegetal da cerca, mas outro, tão ali, tão presente...a me exibir agora bagas rubras, de um aromágico outrora...