Puro deleite...?
E naquele finalzinho da década dos cinquenta, a modorrenta cidade de Pitangui, que havia anos reivindicava um benefício do Governo do Estado, tipo reforma da matriz, ou capeamento do corgo Baiacu, que havia sido convertido em rede de esgoto do burgo, achou o momento propício de mandar uma delegação de sábios a Belo Horizonte para formalizarem a postulação.
Enfatiotados em seu melhores ternos, a que se sobrepunham os infalíveis guarda-pós, cerca de uma dezena de prestimosos cavalheiros tomou o trem para a capital, numa animação febril. Afinal, a cidade votara em peso no Governador eleito, e tinham garantido o apoio vocal, mas solene, de um dos mais destacados deputados do Estado.
A audiência com o já indicado Secretário de Obras fora um sucesso, ao menos em termos de esperanças. E o almoço-banquete que se seguiria consolidava o prestígio da serrana "Rainha do Oeste"...
Os delegados, ciosos de sua embaixada não queriam fazer feio. Nos minutos que antecederam o repasto oficial combinaram todas as precauções para evitarem uma escorregadela, um faux pas... E assim, ao verem tantos variados talheres em torno cada prato, fecharam na questão de que só se movimentariam após cada iniciativa do anfitrião...
E foi tudo uma beleza, uma sinfonia de Beethoven. Iguarias nunca antes provadas, em cascata ganharam goelas, esôfagos e buchos sequiosos mas disciplinados...
O arremate daquele ágape, então, foi de cinema. Groucho Marx não faria melhor: o anfitrião, após puxar para si um pires da mais fina loiça de Sèvres - no que foi seguido por todos os circunstantes... - verteu cuidadosamente uma dose leite e... voltando-se para trás, fez um sinal com os dedos e - pelo menos - o seu, gatinho de estimação, apareceu todo refesteloso para o lácteo epílogo...
(a partir de uma história que ouvi há coisa de meio século do confrade William Santiago, recantista, cujo pai, o Dininho fez parte da delegação.)