De profundis...
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Encontraram-se depois da morte, almas amigas, companheiras de viagem: Odiosa e Odiada. Reconheceram-se por um breve momento e se tocaram nas mãos.
Odiosa, a mais velha, disse:
-Nem me lembro mais desde quando lhe conheço. Mas reconheço minha falta. Perdoe-me por ter lhe causado tantos transtornos em sua vida, por ter lhe dado tantas amarguras e mágoas. Foi meu jeito infeliz de viver.
A mais moça, que era a Odiada, respondeu:
-O esquecimento é a única vingança que conheço, é o meu perdão. Já não me lembro mais de nada. Mas aqui estamos nós, juntas como antes.
-Agora sei que me perdoaste, disse a alma Odiosa, porque esquecer é perdoar. Prometo que irei esquecer também.
E a Odiada falou devagar:
-Enquanto durar seu remorso, durará a sua culpa, a sua lembrança de toda a inveja e de todo o mal que fez para mim.
Moral da história: Feliz o que perdoa os outros e o que se perdoa a sí mesmo.