Presente de Natal
- Feliz Nataaal, Julinho! – Desejava a mãe com entusiasmo.
O menino, porém, continuava parado, inerte diante do pisca-pisca da árvore de Natal, como que hipnotizado. Os pais disfarçavam, não ousavam falar, mas no fundo desejavam ter um filho “normal”, que corresse, pulasse, conversasse, fizesse muito barulho. Um filho no qual pudesse fazer uma grande festa de aniversário e ele pudesse se divertir com seus amiguinhos. Um filho que se entusiasmasse com os presentes de Natal e que ansiasse à chegada do Papai Noel. Mas Julinho nascera diferente, tinha “um mundo só dele”, como se dizia no popular.
Naquele Natal Julinho estava com cinco anos e continuava recluso em seus pensamentos. Ele ganhara um lindo carro de controle remoto, última geração. Entretanto, tudo o que importava eram aquelas brilhantes luzinhas da árvore que ornamentava a sala. Olhava fixamente, virando a cabeça de um lado a outro. Os pais olhavam curiosos, procurando algo de extraordinário, mas nada de mais viam.
- Olá, Julinho, tudo bem?
A criança piscava os olhos sem parar.
- Eu sei que você pode me ver. Aliás, pode me ver, pode me ouvir e pode me entender. Só você, mais ninguém. E você pode, porque você é especial. Nesse mundo doido, só os puros de coração podem ver a mágica.
A criaturinha minúscula, de orelhas pontudas, roupinha verde, sorridente e falante gesticulava sem parar de dentro da folhagem do falso pinheiro. E, balançando-se animadamente no fio do pisca-pisca, continuou:
- Eu sei, Julinho, que esse mundo pra você parece ser bem caótico, maluco, perturbador. Pra mim também. Por isso, assim como você, prefiro permanecer isolado. Não é todo mundo que vale a pena. Mas você vale. Ah, se vale! Vamos ser amigos, Julinho. Amigos para sempre!
O menino agitou-se. Sorriu como nunca. Levantou-se, pulou, dançou, deu gritinhos de alegria. Olhou para os pais e lhes sorriu também.
- Olhe, Alfredo! – Disse a mãe com satisfação – Parece que dessa vez acertamos no presente. Veja a felicidade do nosso menino.
O pai sorriu também.
Depois da ceia, foram dormir com os corações em paz, com a esperança de que o filho, de alguma forma, acharia um jeito de se encaixar no mundo.