VINGANÇA NA ENSECADEIRA
VINGANÇA NA ENSECADEIRA
Ia matá-lo, disso não tinha dúvidas.Haveria de achar uma forma de acabar com a sua vida ,de forma cautelosa sem deixar pistas ,a verdade é que ia assassiná-lo, não podia mais vê-lo, o sangue corria forte nas veias ,o coração acelerava de ódio. A mundo ficou pequeno para os dois, logo nós que éramos amigos de infância ,criados nos oitões da serra do Araripe, correndo gado na caatinga fechada.Lembrava-me bem da temida seca , trouxera novamente a fome,tivemos que abandonar a sela de couro e as esporas . Chegamos juntos no acampamento, a grande barragem estava iniciando sobre o Rio São Francisco , ; começamos a trabalhar como peões barrageiros no mesmo dia e na mesma empreiteira .Ás vezes ,confundiam-nos como irmãos,de tanto andarmos juntos,mesmo quando não estávamos trabalhando.Recordava-me das muitas noites que passamos na mesa de um bordel confraternizando uma amizade eterna. Certa feita, lembrava-me bem da aflição do meu ex-amigo ,quando um companheiro falecera em acidente, atropelado pelo gaiolão , a noticia correra rapidamente e o nojento só ficou tranqüilo quando me viu ,são e salvo . Parecia que sua amizade era sincera, até aquele dia na feirinha ,na frente de todos ,onde o desgraçado insinuara que minha mãe era uma zinha. Minha mãe casara três vezes,mas nunca foi uma protistuta, não suportei ouvir aquilo. Só não se matamos ali mesmo porque os presentes não deixaram. Tínhamos bebido bastante, mas no outro dia não se falamos e no outro também não.
Até aquele momento ainda não tinha a idéia de assassiná-lo. Porém,com o passar do tempo ,um ódio mortal foi crescendo no meu coração á medida que se revelava o orgulho e a soberba do meu desafeto; não suportava mais o ar fidalgo, o olhar insolente ,as costas largas que me insultavam. .Ainda mais o malicioso não se desculpara e andava falando insídias a meu respeito. Quase sem querer um plano macabro começou a tomar forma na minha cabeça, e foi crescendo como uma avalanche de pedras.Procurei aproximar-me do destemperado, mostrando-me arrependido e humilde para reconquistar sua confiança.Em poucos dias tudo parecia como antes,a amizade parecia restaurada,o plano estava dando certo.Conseguira vencer a resistência de um brutamontes, ríspido e grosseiro ,teimoso como uma mula,de respostas ferinas que pareciam patadas,álias, característica de sua personalidade doentia que não mudara aos longos dos anos. Com muito custo contivera minha emoção e engoli o meu orgulho ferido para não matá-lo em qualquer momento , pois temia a família do infame como o diabo teme a cruz , não me deixariam vivo.Portanto, toda cautela seria necessária ,para a execução do esquema macabro.
As obras da ensecadeira avançavam celeremente para o final,logo começaria a concretagem das bases das turbinas .Trabalhávamos em turnos,e investigando o local percebi que na preparação das formas cambotas,em sua parte interna , formava uma espécie de nicho no qual seriam inseridos os blocos de ancoragem.Pareceu-me o local perfeito para esconder um corpo,havia espaço suficiente,esperaria uma oportunidade.Certa noite,enquanto bebíamos cachaça no bordel,senti que tinha chegado o momento,precisava atraí-lo para o palco macabro, o que não foi muito difícil pois o infeliz estava bêbado,mas demorou rabiscando um bilhete num pedaço de papel..Argumentei que precisávamos retornar ao local do trabalho,tinha esquecido algo importante,logo voltaríamos.Tomamos um atalho,previamente estudado,longe das vistas dos seguranças,e penetramos no canteiro de obras;tudo estava silencioso e o excomungado parecia ficar sóbrio e meio desconfiado á medida que penetrávamos no corpo da barragem.Aproveitando um descuido,peguei uma marreta estrategicamente escondida,e meti-lhe um violento golpe na cabeça e seu corpanzil veio abaixo como uma saco de cimento.Continuei batendo fortemente,duas ,três,quatro vezes,acho que perdi a conta,seu rosto nojento estava disforme ,tinha virado uma massa sanguinolenta ,mas continuei a marretá-lo como um insano.Afinal,dei por conta que já estava morto,e conforme o planejado arrastei seu corpanzil para as formas cambotas,preparei um traço de concreto e cobri o cadáver com a massa,com muito cuidado para não deixá-lo á vista.Quando terminei estava molhado de suor,completamente exausto,mas estranhamente feliz e realizado com o meu feito.No dia seguinte a concretagem das bases das turbinas enterraria definitivamente o maldito que ficaria para sempre naquele bizarro jazigo ,sob toneladas de ferro e concreto.Voltei para casa sem ser notado e logo dormia calma e profundamente mas, no fim da noite , tive um pesadelo : logo depois do crime ,houvera um problema de fissuração nas paredes de concreto e revisaram todas os blocos antes da concretagem final , e no ensaio de ondas magnéticas,acharam o corpo sem vida , O pior viria logo a seguir, no bolso de sua camisa encontraram o bilhete me responsabilizando pelo crime. Acordei,sobressaltado e bêbado de terror,com o grito de seu irmão mais velho,conhecido como um terrível matador,pedindo-me para sair e morrer...