Doente pra moça
Era assim, com essa singela, mas bela metáfora, que tia Vicentina, se referia ao homo-afetivo genérico que conhecera nos seus dias de meninice lá na Onça de Pitangui. Ao usar o termo, espiava antes ao seu entorno para certificar-se de que nenhum ouvido adulto seria alcançado.
Via naquela simples referência um pecado venial sedutor, uma distorção da natureza, ou uma mera distração do invisível e indizível Criador.
Chegava a lamentar até aquela ocorrência singular. Na nossa doméstica (p)inocência faltava-nos argumentação para explorar melhor o conceito, que, cheio de nós, era novidade para nós, feito um insinuante e desalinhado retrós.
Embora a primogênita da irmandade, e trabalhadora como todas, as irmãs menores tinham ascendência sobre ela, mas talvez, menos ousadia para narrar fatos de uma vida sofrida na escassez de meios, sobra de receios e tantos religi(g)osos freios.
Era pecado até achar padre bonito. Namoro então era affaire só do coração, corpo não. E virgem se manteve na juventude, na maturidade até que na senectude, já aposentada das lides da fábrica de tecidos, encantou-se com um moço dos cabelos corridos, bigodes bem aparados que a mirava insistentemente da tela de televisão. Só a ela ele via, ela o sabia. E doente pra moça não podia ser, nada de gay, aquele galante Sarney.