Às compras!

Ela saiu pra comprar umas coisas, talvez dois pacotes de anti-tédio, um quilo e meio de emoção e mais algumas guloseimas que satisfizessem a carne.

Foi ao mercado mais próximo porque tinha pressa de preencher seus pulmões com o ar da liberdade. Estava fadada ao abismo profundo de vazio e solidão. Sentia-se mais morta do que de costume e mesmo o ar leve de uma tarde de sol não aliviava o peso em seu peito.

Entrou e foi logo enchendo o carrinho, os olhos em busca de algo novo, talvez de qualquer que fosse a emoção. Algo que servisse para beliscar sua carne e provar de que estava bem acordada e ainda viva!

Os cabelos longos e claros estavam presos num coque desarranjado isso deixava suas expressões agressivas e delicadas bem à vista. Vestiu-se para caçar, um top branco e curto que lhe mostrava a barriga sarada, resultado de horas de malhação, o shorts jeans era tão curto quanto e um tênis para despojar o visual.

Percebia claramente que não só seus olhos moviam-se furtivamente em busca de tudo, mas que também era alvo de muitos olhares. Isso a fazia rir um pouco, lá no fundo, dentro de sua alma escura.

Fixou-se perto de uma prateleira e enfiou no carrinho cinco sacos de tentação, depois um pacote de coragem e dois de sensualidade, ela não precisava de tudo aquilo, mas era mais por precaução.

Muitos interesses a vista não a permitiam distração. Era minuciosa em suas escolhas principalmente quando estava fazendo compras mais ainda quando isso incluía caçar.

Depois de algum tempo os ânimos a deixaram e ela já de carrinho cheio ainda se sentia vazia. E toda a possível presa já não lhe apetecia.

Murchou os olhos e o coração.

Resolveu fazer uma última parada numa prateleira que adoçou seu olhar. E já sem intenção alguma de algo novo, ouviu uma voz doce e grave que entrou pelos ouvidos e arrancou-lhe fora a espinha. Era de um amigo. Ah! Doce amigo! Doce presa!

Quando se virou para encara-lo, seus olhos sentiram o beliscão na carne que buscara. Pois a beleza do rapaz preencheu a vista. De cabelos curtos e negros, olhos felinos, lábios carnudos, porém finos, a camiseta preta agarrada ao corpo, via-se a tatuagem que ela bem sabia, saía do peitoral e terminava no braço, calça jeans e tênis. Um charme que ela não deixaria escapar, pois hoje, saíra pra caçar.

Sem muitas palavras foi direta. Agarrou na nuca do rapaz e puxou-o pra si. Sua língua a dançar com a dele, ao perceber que a presa não estava disposta a lutar, fincou-lhe as garras em suas costas por baixo da camiseta e quando percebeu fora agarrada também.

Parecia haver certo acordo particular e íntimo que nunca foi declarado, porém naquele instante, admitido. Ele puxou suas pernas e a levantou, ela cruzou as pernas nas costas dele e assim ambos voaram numa dança ao ar livre. A respiração ofegante desorientava os sentidos por um lado e aguçava de outro. O cheiro dele despertava nela o gosto de tudo que viera comprar, e o sabor daquele beijo parecia o elixir que imortalizava os deuses. O ar preencheu-se de vida e de cores e ela finalmente percebeu que não precisava mais de tudo que estava no carrinho de compras.

Depois de um eterno momento os dois se entreolharam e sorriram de um jeito maroto. Pois sentiam, ambos, a alma preenchida.

Caminharam juntos para o caixa e juntaram suas compras, tiraram quase tudo do carrinho, levaram só o essencial para a felicidade.