Compulsão por leitura
Dia desses vi no sítio virtual de um xará, e colega de desprofissão, uma confissão de amor pela leitura. Mais que amor, compulsão, sim senhor. Do tipo que faria questão de acompanhar o pai ao cartório para ler, em primeira mão o registro de seu nascimento.
E fazer observações, e ementas, sobre a grafia, soletrar e regras de acentuação ao pai e ao tabelião. E não contente com sua prodigalidade leitoral - de que a miopia de dois dígitos é prova
- o danado pesquisa e ainda escreve sobre o que lê. O homem não é só o que lê. Pode escrevê!
Isso naturalmente não o impediu de nos devidos e indevidos tempos de flertar, olhar pras pernas e mesmo comer sopa de letras. Se o m andava de quatro pra ver se lhe escapava ao fino e permanente escrutínio, o o, ó, é que dava mais dó, pois com essa sua forma rotunda era vítima da cobiça mais profunda.
Eu mesmo, com todas as poucas letras de meus muitos textículos, não me vi 'neamoins' protegido de sua estranha sanha: numa volta de carro que fizemos, na encantadora cidade de Berna, que parece de fato hiberna, ele no volante, enquanto papeava, também furiosamente, papelava, folheando furibundo um jornal local. Em alemão, ou nalguma língua cantonal. E se jactava de já ter batido - de leve - o automóvel em faceiras traseiras em função daquela compulsão de besteiras.
Autuado pela infração, todo texto legal leu até que o guarda, sem aguardar, e sem paciência de esperar, esca...fedeu.