Cabeça de Coité
Ticintina, avançada na octogenariedade, já descambava, em aceleração progressiva para a alienação. Mas se aferrava às suas preocupações com aquele rapazim, a quem chamava de Cabeça de Coité. A criação era sua e conferia com a realidade. O corte de cabelos lisos à moda dos Beatles dava mesmo aquela aparência ao meninote de um dito Dito Cezar, carpinteiro, que vivia na vizinhança e passava pela rua com usança.
Ticintina que da janela só para a TV saía, jurava que o indigitado via sempre munido de um canivete a lhe riscar o muro da casa. E na falta de nossas imediatas providências, era à divina que recorria, esperando noute e dia. Enquanto da rua, o abusado pivete não saía.
Ticintina chegava a chamá-lo de desaforado e quando o interno tumulto era serenado, voltava à TV, aquele canal abençoado. Via as novelas que podia mas ultimamente, o que mais a comprazia era a visão
..."daquele moço de negros bigodes..." que falava à nação, mas que parecia só querer falar-lhe ao coração. Das invocadas brasileiras, Ticintina sentia-a a primeira das primeiras a prestar atenção naquele moço simpático e bonitão que, baixava aí a fala, parecia querer namorá-la.
As irmãs Rita e Lia chegavam a caçoar daquela devotada atenção. Inveja daquês ói que inda mereja? O certo é que, por um momento se esquecia até do flagelo do Cabeça de Coité...