Olhos de Nezita
Os olhos de Nezita não estavam no Gibi. Verdes, azuis, eu não saberia catalogá-los, nem com ela à minha frente. Como ousaria? Afinal, mais do que seis anos nos separavam na cronologia, e saecula saeculorum na habilidade de se abrir as janelas do coração.
A sorte é que quando eventualmente me assentava no banco traseiro de sua Vemaguete grená, tinindo de nova e de cheiros onde até o plástico inebriava, era para acompanhá-la e à minha irmã, La Toya, nas suas idas ao Campo Grande, povoado vizinho de nossa Velha Serrana, para o seu ofício do magistério.
Ambas professoras, amigas, palreiras, e eu calado, atrás, torcendo para não ser acionado, já que a gagueira daria todas as pistas de minha leseira. Bastava-me aguentar os sacolejos da estrada de terra, encascalhada, conquanto serena fosse a condução de Nezita.
Negros negros eram os seus cabelos, sedosos, anelados a se contrastarem com o róseo rosto, e aqueles olhos, que eram mais que o resto, o arrasto. Sua irmãzinha Lelé, minha contemporânea de ginásio, por suavezinha que fosse, carecia de todos aqueles apelos. E ainda vinha com a agravante do conjunto não-estonteante.
O pai, um ex-fazendeiro de quem se dizia ser abastado, dera-lhe o carro de presente. Coisa chique uma professora ter automóvel zero km e mais ainda, usá-lo para o trabalho naquelas lonjuras pra cascalho.
Não durei muito, contudo. Minha companhia, idéia da mana, quiçá menos pra incentivar-me nos caminhos de Cupido, do pela segurança de ter um homenzinho no carro, não fazia diferença. E eu, bobo, vivendo na crença. Até que o seminário ditou-me outra sentença.