A cupidez de Vivinha
O prefeito Paulo Vasconcelos, mais conhecido por Gambá, ofereceu cinquenta contos. Vivinha rebateu, exigindo 500. O que estava em contenção era uma franjinha do terreno de Dona Vivinha que, se transferida para a Prefeitura, permitiria o alinhamento reto de uma rua que se pretendia abrir.
Gambá chegou a comentar com papai, morador no referido beco, juntamente com quase uma dezena doutros, que Vivinha estava mais do que irredutível, estava alucinada com aquela sua descabida exigência. Não havia margem para negócio, nem mesmo sinalização dela. E era agora o último empecilho à transformação do antigo Beco-sem-saída em rua promovida.
Vivinha já vivia só à época, numa casinha digna, relativamente espaçosa e nem teria que cuidar da ereção de novo muro se cedesse parte de seu espaço à Prefeitura.
Mas como uma curiácia, ela resistia e nos quinhentos contos é que insistia. Não baixava, nem dividia.
Papai, com seu espírito prático, obtemperou a Gambá:
- Aqui nesta vetusta cidade, Dr Paulo, o senhor pode observar que, à exceção da rua Nova, todas as demais são tortas, de larguras variáveis e de piso sofrível. Uma ruela a mais, nesse conjunto, não vai fazer mal a ninguém, a não ser no campo visual. Mas a cidade em si, é míope. E com a torteza da rua, economizam-se cinquenta contos para outras atividade mais urgente. Pra quê alinhar, pois? Só pra ser diferente?
E a pia e beatífica Vivinha não pensou na retidão da rua. Por 500 contos fá-lo-ia, mas por aquela mixaria? O Pai não aconselharia. Livrar-se-ia de mergulhar no fausto, na riqueza súbita, na posição decúbita...
Até que um dia, pro céu se foi e lá, sem rua torta, pouco se importa. A mão do Pai é que a conforta.