O Totõe da Sá Ju
O Totõe da Saju era visto quase sempre em sua venda de miudezas - miúda ela também - naquela esquina do largo de São Francisco com alguma de suas muitas travessas. Fora dali, só nas raras missas da igreja vizinha o vi. E assim, em dia de festas religiosas.
Mas de seu balcão dava pra divisar a igreja do Santo da praça, com suas duas torres semelhantes, só diferidas pelo relógio que se achava numa, e se ausentava noutra. E de pouco bastava a badalação, pois havia décadas parara naquelas imorredouras três horas e dezessete. Ou seria só um ponteiro que lhe sobrava e aquela impressão encavalada de horas dava?
O Totõe, contudo, não se preocupava com o tempo à sua volta. Até o casamento vinha driblando, pois desde que conhecera aquela viúva, quase quarentona, das negras madeixas, o paraíso viera junto. E se não bonita, era vistosa e aprumada aquela senhora, um tanto misteriosa, que vivia no outro lado da cidade.
Vivia não, praticamente vivera, pois ela passara desde então a fazer companhia diuturna ao Totõe, atrás do balcão e à frente de qualquer outra situação.
A freguesia da venda era pequena, limitada ao pessoal que vivia naqueles altos do São Francisco, e ao estoque, de escassa variedade, entre guloseimas e um modesto sortimento de víveres e quinquilharia.
O que o Totõe no entanto possuía, diferentemente de outros vendeiros, era o pão-de-sal de cinco cruzeiros, na exata metade do que se vendia na padarias, a dez pratas. Gostoso e bonitinho, o tal pãozinho. Não duvido até que a viúva, antes do amor ao Totõe declarado, tivesse daquele seu pãozinho também se enamorado.