Não fui além
O Toinzim do Bar devia ser um ano ou dois mais velho do que eu, e embora não demonstrasse muito apego aos estudos, já trabalhava no bar de algum tio ou aparentado, jogava futebol do infanto do Zeemilho e, com aqueles cabelos penteáveis e sobretudo, cortáveis, me passava um quinau definitivo no quesito sucesso com o sexo oposto.
Não chegávamos a ser amigos, mas uma empatia nos aproximava, se não unia. Tínhamos rotinas diversas e lados distintos no balcão das graças de sociedade. Nos meus 14 ou 15 anos, o máximo a que eu
cometia era um guaraná com limão, enquanto ele, compulsava, abria e vai ver até que tomava seus golos iniciais de uma Brahma, uma Caracu. E com golo ou não, seu desembaraço no trato com as pessoas era flagrantemente oposto ao meu retraimento.
Alguma razão, ou falta dela, me impelia a conquistar, se não a amizade, ao menos a atenção do Toinzim. Mas as coisas não avançavam. Ficávamos no como vai. E foi como foi.
Até que aconteceu o inusitado: duma hora para outra, sem pre-aviso, chegou a notícia de que o Toinzim tava paralítico - da cintura pra baixo, nem mexia. Sem acidente algum. Apenas amanhecera assim, num dia depois duma partida de futebol, sem aparente causa para aquele desastroso efeito.
Pensei no Toinzim, na sua esfuziante faina diária, e até noturna, e agora, reduzido à solidão definitiva de um catre, ali na casinha modesta e isolada em que vivia com os seus, num baixio brejoso, na saída da cidade na direção do Velho da Taipa.
Será que as meninas iriam agora ter pena dele, visitá-lo, considerá-lo para algum futuro empreendimento, ou ele ia ter que amargar a repentina e sombria solidão, entrevado, sem alguém ao seu lado...
Pensei numa visita. Chegava lá, sabia que ia ouvir choro, inconsolável, sem recurso, mas ao cabo a gente se fortalecia, se solidarizava. Penei só no pensar. E, embora pensando bem, não fui além.