Retrato de Bebel
Os retratistas viviam percorrendo o interior, vendendo suas maravilhas. E as famílias agradeciam aquela oportunidade. Não havia a pressa de hoje. Eles lhes davam tempo de tomar um banho, aprontar-se e até espargir um cheirinho pelo corpo, se perfume houvesse.
Lá para os lados do povoado do Brumado dos anos cinquenta, Zazá era o mais conspícuo deles. E não havia boa mãe ou bom pai que quisesse perder a chance de preservar um memento para o futuro - a para as exibições para os parentes que viessem em visita. E era tudo com o preto no branco, só variando um pouco na qualidade do papel, do mais liso ao ligeiramente caroquento.
Terceiro na ordem cronológica do casal LuiZezé, eu deveria ter em torno de um ano de idade - e não me lembro rigozosamente de nada - falo o que me contaram e o que a foto de então registrou: nossa família à porta de entrada de nossa casa, papai e mamãe bem arrumados, de pé, comigo no colo, rodeados por mana La Toya, a primogênita, mas, neca de Bebel.
Uma menina que aparece de esguelha na nossa porta de entrada, não era a Bebel. Era a babá, então nomeada pagem, que cuidava de mim sem precisar de trocar fraldas, gênero inexistente para nós naquela época. Mas e Bebel?
A potente lente de Zazá não a capturou, ao contrário, a espantou. E a cama Patente, sob si, a abrigou. Esse pânico, conflitando com o penico, só passou depois que o retratista se retirou. E Bebel à nossa rotina se reincorporou. Não chorou, nem se lamentou. Só se libertou.