Molha na farinha!
Mesmo na presença de tanta companhia feminina, como a mantegueira, a compoteira, a cafeteira e até a escumadeira, o farinheiro não deixava por menos: era dono do centro da mesa e das atenções mais variadas.
Chatinho feito ele só, de um alumínio bem liso e fino, no ataque ou na retranca ele era mesmo de botar banca. E guardar aquela farinha de mandioca, da bem branca.
Uma ou outra vez haviam-no experimentando como guardião da farinha de milho, aquela amarelinha dos beijus enormes e disformes, e com a farinha de mandioca torrada, mas ele, de beicinho bem feitinho, não topou a parada.
Era composto de duas peças, ou três, como vês e se não te apressas: o corpo, bojudinho, em formato de um disco, a tampa, de idêntico desenho, só que mais levinha, com sua alcinha, e finalmente, a colher, (ou era concha?) para o serviço, cujo cabo se projetava para o exterior por um bem acertado furinho na borda da tampa, que permitia, com o farinheiro fechado, a visão de um conjunto muito bem articulado.
E protegido, sobretudo pelo zelo de Tia Isabel, que não costumava confiar a outrem - leia-se crianças - o seu manejo bem-fazejo. Tia Vicentina, a irmã maior, que se cuidasse. E cuidado ela tinha, tanto que gostava da farinha: podia-se medir a quase exatidão com que em qualquer refeição, dava um terço para o arroz, um para o feijão e o outro, Senhora minha, era para a bendita farinha. A carne, ou o eventual legume, de acessórios e simplórios, ficavam até com ciúmes - e dos inglórios.
Mas tia Isabel se redimia aos nossos gulosos olhos quando nos oferecia a sua deliciosa carne de panela - 'molha na farinha' recomendava, boazinha!