Nízia
Atrás de seus olhos fundos, melancólicos, piorréia nas gengivas, Nízia se escondia. Pouco brincava com a meninada da rua e, se algo não dizia, é porque calada sofria.
Ir à escola era um sofrimento e, a não ser cuidar da casa e da irmãzinha mais nova, o resto era tormento. De que valiam aqueles cabelos negros, sedosos, a covinha no rosto se lhe faltava o sorriso, o olhar mesmo sem juizo?
Os anos que se passaram naquela quase permanente reclusão foram pesando tanto que a levaram da depressão à alienação. Continuou a ser a boa moça, cuidadosa para com os pais, os irmãos, mas quem mais?
Quanto moço, seu contemporâneo, e candidato potencial ao seu coração, fora buscar noutra casa, noutra rua, noutra cidade, outra por cara-metade? Se chegou a trabalhar fora de casa, foi por pouco tempo na fábrica de tecidos. Que ia fazer em meio a tanto algodão, tanta má criação, aborrecimento, pra ganhar miliquinhento?
Foi viver entre suas paredes naquela casa acinzentada e não mais que a janela da frente, para na alma dar uma arejada. E olhando distante, para o além foi-se também, ainda jovem em anos, e enfastiada de
esperar pela primavera. Cobrindo a lembrança dela, a Nizia, zínias fazem homenagem singela.