O gigot de Armindo
Se você tivesse passado pela Embaixada em Varsóvia naquele lustro que se estendeu de 1982 a 1986 não iria escapar de receber encomendas do Embaixador Armindo Cadaxa quando das idas como correio diplomático a Genebra. As valises oficiais eram quinzenais, e requeriam a boa disposição de se embarcar nos Tupolevs e Antonovs da empresa polaca de aviação, a LOT, com uma sempre alentada e eclética lista de pedidos, que iam de leite em pó para bebês, a alguma obra recém-disponibilizada na livraria Payot.
Prioritários, eram os itens de Sua Excelência, tanto pela liturgia do alto cargo de Extraordinário e Plenipotenciário que ocupava, por merecimento, quanto pela curiosidade em saber, por exemplo, o que vinha a ser um marron-glacé.
De uma ida minha à encantadora cidade de Calvino, coube-me a incumbência de trazer, além do lote dos usuais queijos franceses e suíços, um gigot d´agneau, que seria a pièce de résistance de um jantar para seletos colegas do corps diplomatique que se anunciava para breve.
Havia contudo, uma condição para se trazer o referido gigot: tinha que ser da coxa esquerda do cordeiro, senão, nada feito. Com meu francês arrevesado como aquele que mais de uma vez ouvi da boca de Dom Hélder Câmara, percorri os clinicais açougues genebrinos e não foi difícil encontrar a peça, consoante requerida.
O que não foi fácil, desde então, foi achar a razão para aquele aparente disparate: por quê só a coxa esquerda é que serviria? E por falar nela, recordo que não me foi dado provar daquela iguaria.