A vinda da cegonha
Que o Zé era sistemático, disso ninguém duvidava. E a ser enfático até chegava. Namorar, namorava, mas era tudo dentro dos mais sacros cânones, herdados duma morigerada infância, juventude e, agora, a entrada na maturidade.
E o Zé, após anos de troca de olhares com Eveline, dela que ficava na janela, aproximou-se e Cupido do resto, presto, quase que encarregou-se.
Mas chegou bem perto. E foi além do dia em que Zé, que também era Maria, a Eveline proporia.
Era ela a moça adequada. Só tinha os olhos para o Zé, verdes dum lado, com do outro esverdeados. E Eveline, com bodas marcadas, foi cuidar de seu trousseau.
Zé, com o coração disparado, filosofou. A hora era de encomendar o terno azul-marinho. E no entanto, sucedia, que o prospectivo sogro, o Chiquim, da alfaiataria é que vivia.
Gelou-se então Zé Maria, na sua nada vã filosofia: e agora, encomendar o terno ao Chiquim dava a entender que queria se aproveitar, inda antes de a fruta provar.
Pensou o Zé noutros alfaiates da cidade, que eram uma penca. Mas, alto, lá, seria maior a encrenca: encomendar o terno alhures seria se desfazer do sogro, inda passar-lhe um logro.
Sufoco. Só aliviado quando, suado, e dum par de malas acompanhado, Zé embarcou pra Goiás. Na surdina, mas como contar pra menina?
Fê-lo por carta, entre econômica e farta, na medida para dizer que de toda aquela inconha, sobrava-lhe vergonha.
Quanto a Eveline, molhou mais de uma fronha. Vida bisonha.
E ao Zé, doutro ventre, foi que lhe veio a cegonha.