A doçura do Macieira
O nosso finzinho de Rio Branco antecipou-nos coisas que pareciam programadas só para os quarenta ou cinquenta anos vindouros. Por amostragem, diga-se de passagem.
Primeiro foi uma supuração de úlcera que me derribou por uma longa semana. Baixei hospital sem tempo, ou crença, para levar comigo
apostilas, compêndios, anotações e, não estou seguro agora, até pijama.
Mas o exame mais duro que enfrentei - por via oral - foi o endoscópio, por um par de vezes. Era então um aparelho alemão, invasivo como um comando das SS, que se notabilizava pela espessura. Relaxei e glosei.
Um segundo golpe, mas aqui já cruzado o Rubicão da formatura, e apenas iniciada a nossa diplomática investidura, pegou o Macieira: Hepatite, que o acamou por umas boas semanas. Embora livre do rigor da rotina hospitalar, o Macieira teve que seguir uma braba dieta alimentar: doce e mais doce, sem parar. Inda bem que estava casado ou em vias de, e a devotada companheira, quem sabe, até hoje na memória ressuscita quella dolce vita.
Morando na mesma quadra, e com o Brasileirão em andamento, fui algumas vezes, em tardes dominicais, visitar o resiliente colega, que chegava até a pilheriar com a ironia de nosso fado: o que precipitara minha crise ulceral fora, aparentemente, uma cortada que ele mesmo dera a queima-roupa que viera de encontro ao meu baixo ventre, no nosso futebol matinal. Vinte centímetros abaixo no ponto de choque, a história teria sido reescrita - em lamentada desdita.
Mas o que eu não tinha mais saco, era para comer mais doce, apesar do refinamento da abóbora que da iguaria da vez então se fez.