Interesseira
Era professor, Antônio, e de Oliveira, o intérprete de Interesseira. Quando o microfone tomava, crescia, e a platéia se calava num silêncio que extasia.
O terno de linho claro era sua marca indefectível. Mas a bagagem era maior que a roupagem. Mas também não lhe faltava a linhagem: vinha duma numerosa família canora, enraizada no torrão da Velha Serrana havia gerações - e quantas, tantas, canções.
Celibatário convicto, Antônio encontrava a paixão defronte a multidão e os aplausos da ocasião. Enérgico com a moçada a quem preparava para a admissão ao ginásio, a quem distribuía cocadas e beliscões, quando a noite o reclama, deixa o drama, é mais que uma dama.
Tive a oportunidade de vê-lo, na capital, adentrar um ônibus-lotação, cantarolando o coração sem juízo, que fazia muito sucesso à época, na voz de Nélson Ned. Meu ímpeto foi saudá-lo, mas me refreei, quase no ato. Não cabia interromper aquela sacralidade. Seria um ruptura interesseira.