Esplendores perpétuos
Quando nos mudamos do povoado de São Gonçalo do Brumado para a sede municipal da Velha Serrana, já caminhava para um fim a década dos cinquenta. Juscelino no poder, botava pra fu...lminar, construindo a Novacap e, justo no mês de nossa mudança, a seleção canarinha colocava todo mundo na dança.
O resto, era a modorra das férias de meio de ano, sem passeios, mas que nos traziam a expectativa de uma escola nova, fazer novas amizades e aprender a falar espevitado, como aquela gente da cidade.
Nosso instrumento de inclusão social, naquele meio variado e buliçoso, eram as práticas eclesiais de base, que religiosamente íamos cumprindo. Não se era então omisso às missas nem a outras sacras premissas, como a confissão e a comunhão.
Se aquilo parecia agradar ao Pai, Ele, misericordioso, parecia querer mais para um convívio mais harmonioso. E passamos assim a acompanhar enterros, gravemente anunciados no alto-falante da igreja matriz. Não chegávamos ainda a frequentar velórios que não só requeriam maior compostura, mas também um certo jogo de cintura, pois era preciso e precioso saber conversar - e consolar.
E assim é que íamos na rabeira das procissões, mas sempre de olho nas formalizações. Dava um certo pavor, nada obstante, entrar no cemitério e ver tanta tristeza mais cruel mudez, mas urgia manter a sensatez.
A tumba do Jaiminho, por exemplo, que havia morrido aos 18 anos de idade, atropelado por um veículo em Belo Horizonte onde estudava, era
das que mais atenção chamava, pelo tanto e pranto com que era visitada, para a prosternação da família, perenemente enlutada. Jaiminho era nosso conterrâneo brumadense e o um sonho que fora ceifado em plena juventude. Agora, ali, na quietude.
Havia umas hermas mais sofisticadas de grandes patriarcas e matriarcas do burgo. Eram poucas e bem notadas pelos visitantes, circunstanciais ou constantes. Traziam anjos, dizeres bonitos e vasos - tempo em que o Ronald Ésper mal engatinhava e em nada os ameaçava.
Mas a parte da diversidade tumular, havia, está nas Escripturas, o de que exultar: todos ali, uniformemente encomendados e pranteados, iam mais além, para os esplendores perpétuos, com os anjos dizendo amém.