A Rosa que Sorria.
Ao cerrar os olhos, era como quem dormia. Um bebê em sonhos róseos, azuis, e todos os tons do arco-íris. Mas desta vez foi diferente. Não havia jardins e flores, nem sol, nem pássaros cantando... Abriu-se uma porta, deparou-se com a escuridão sem fim e sem volta. Não havia o túnel, ou àquela luz...
Lá nada havia, não havia nada! Nada...
Inda chovia, e o esquife seu último adorno, estava gotejando. E sob a laje úmida, a música contagiante era esse compasso descompassado da chuva lá fora. O esquife, trabalhado às nuances de seu corpo, era mogno, adornado de alças cromadas em cobre. Não precisava tanto apuro. Os detalhes nem mesmo lhe chamaram a atenção. Sentia no auge da dormência que a urna, não era uma urna. Era, um navio adernando, afundando nas águas salgadas. Lágrimas! As lágrimas de todos que a amavam.
E as lágrimas, eram um mar profundo, escuro e profundo. Um abismo que vai de encontro a todos os viventes do mundo.
Por sobre as águas, entre as vagas de enormes ondas flutuava uma rosa. Rosa, quase despetalada e nua... Despida do calor do sorriso da alegria.
Nas mãos a foto amarelecida sorria, e na chuva desbotava. Ela tão muda e fria, jazia. Tinha os olhos vazios, fitos num vazio infinito e de outro mundo.
O retrato fora um momento feliz que ficou no Tempo, mas já era tão triste. Uma chama ao vento que se apagaria um dia.
O sorriso apagou, e, junto todos os faróis, acesos nas tormentas, juntamente suprimiram a luz...
Agora a noite escura, não proclama o desviar das rochas. Porque descaminhos nas águas são desvarios entre os rochedos, e somente a tragédia descortina-se no breu.
Outrora, sob o sol, cercada de mimos. Cercada dos cuidados e carinhos, protegida. Sentia medos e arrepios. Que logo se esquecia, e sorria, sorria, sorria... Agora, nesta via erma, turva, tormentosa, via... Segues sozinha... Sem ter quem lhe segure as mãos, para um mundo onde todos seguem sós.
Qual o sentido da vida? Se as lembranças se apagam, qual o sentido de tudo?
Que será da Rosa, que será da Rosa, que será?
Que saudade... Que saudade... Que saudade.
Sua foto é tudo que fica pra nós?...
Não. Não, não é somente isso. Ficará também o silêncio daquele sorriso, e a luz alva, branquejada; talvez, a única luz depois de tudo. Um sorriso, que esta muito além do retrato fulgurante na tosca lápide que desponta em meio a tantas.
Enquanto na luz as impressões gritantes ficam e nos emociona, a realidade se desfaz em algum lugar, na sombra do que foi, silenciosamente.