Nem Sei

Choro porque dói. Erro porque sou idiota. Tento consertar porque sou ainda mais idiota, e insisto, sem medo do que possa acontecer. Talvez porque seja otimista apesar de tudo. Não tenho muitas certezas sobre mim e nem quero ter, pois minha habilidade em errar pode coloca-las em risco. Prefiro ser assim mesmo, não que seja plenamente feliz assim, mas acho que minha essência talvez seja boa. Só não aprendi ainda a lidar com todos os problemas que não ser tão boa assim me trazem às vezes.

É impossível se machucar sozinho... Isso eu aprendi: sempre que você se machucar vai machucar alguém junto. É por isso que às vezes eu penso em desistir... Não entendo isso como egoísmo quando paro para refletir sobre os motivos: entendo como solução – considerando que nenhuma das alternativas que tenho geralmente resolve os problemas. Sempre quis resolver as coisas. Sempre quis dar um jeito. Nas minhas coisas, nas dos que eu amo. Mas eu meto ‘de vez em sempre’ os pés pelas mãos. Começo e não termino, termino sem começar... Faço uma bagunça.

Acho que sou corajosa e covarde ao mesmo tempo. Não tenho medo de conquistar nada, mesmo sendo tímida e sem jeito para fazer a maior parte das coisas e falar com as pessoas. Vejo a todos com um olhar que vem de baixo, ou ao menos da metade do que é alto. Acho que todos são especiais e melhores do que eu. Tem mais histórias legais pra contar, são mais inteligentes, melhores nas coisas que fazem, mais assertivos...

Não me acho melhor que ninguém... Nunca me achei, nem nas vezes em que tentei fazer isso. O mundo é cheio de gênios, e eu não sou um deles. As pessoas tem uma série de coisas boas que elas mesmas não enxergam, coisas pequenas, simples e lindas. Mesmo os mais cruéis têm algo bom e incrível, e se tornam cruéis por não terem paciência em perceber isso, ou por esperarem que outros percebam.

Tenho medo do que os outros pensam sobre mim. Geralmente eles podem estar certos e, como me defender se eles estiverem certos¿ Prefiro falar primeiro que sou ruim e pior, acho que dói menos. O baque de ouvir alguém me dizendo o quanto eu incomodo me deixa completamente agitada e preocupada... Me faz chorar, entristecer, não dormir direito, acordar com medo e me esforçar para que qualquer dia normal possa ao menos parecer normal aos meus olhos.

Certa vez escrevi que o meu sorriso é minha dor e minha alegria. É bem isso mesmo. Sorrio porque dói, e falariam que sou fraca se chorasse e deixasse exposta minha tristeza, minha fraqueza, minha dor, meus medos. Coloquei, desde pequena, na minha cabeça que tinha que correr atrás das coisas e tentar conseguir o melhor pra mim... Aquilo que chega o mais perto possível dos sonhos que tive, mesmo que eu não assuma a ninguém os sonhos que tenho. Tenho vergonha de fazer isso porque meus sonhos são muito simples. Minhas vontades também. São ilusórias, patéticas, pequenas. A mais difícil delas é a de que as pessoas gostem de mim por eu ser o que sou. Acho que joguei esse sonho no lixo quando passei a me preocupar mais com os gostos das pessoas que quis perto de mim. Não sei se me mostrei de verdade. O que eu sou ou fui acho que nunca chamou a atenção. Isso não me entristece porque eu nunca quis chamar a atenção. As pessoas julgam quem o faz e eu tenho medo de julgamentos. Eles me tornam instável e triste.

Eu acho que poderia ter aprendido mais coisas ao longo dos meus vinte e poucos anos. Acho que fracassei porque machuquei muita gente e não consegui conquistar pessoas pelo que eu sou. Sem falar que minha instabilidade fez com que as pessoas que mais amei se afastassem de mim. O mundo que tem na minha cabeça não é o mesmo em que eu vivo. Eu tenho que enfrentar muitas coisas nesses dois mundos. Quando eu era pequena isso era normal e tranquilo... Meu mundo era mais legal e nada do que eu fizesse nele tinha consequência fora dele. O papel e a caneta não reclamavam de nada, não me cobravam postura alguma. Eles me ouviam e guardavam meus segredos e meus erros não atingiam ninguém, afinal eu não falava com ninguém, e ninguém falava comigo. Só diziam que eu era misteriosa, cheia de segredos, mas nunca soube que mistérios e segredos eram esses.

As pessoas passaram a me ver quando passei a fazer, dizer e escrever coisas que elas gostavam. Talvez isso seja relacionamento. Você faz o que elas gostam e elas gostam de você. Dê o que elas precisam e elas estarão por perto. Nunca pensei que isso poderia ser ruim pra alguém, pois me sentia sozinha muitas vezes e era bom ter pessoas perto de mim porque gostavam de algo que eu tinha. Enquanto você tem algo a oferecer as pessoas tem algo a receber, mas se você se torna desagradável, aí você passa a não ser e a não significar nada. Até as pessoas boas conseguem ser cruéis quando isso acontece. E elas são cruéis de verdade. Falam coisas sobre nós que não são verdades. Passam a te odiar por não ser igual a elas, ou porque alguns o consideram diferente, melhor, bonito, destaque, sei lá... Não há espaço para todos no mundo justamente por isso... Ninguém quer ter um espaço pior do que o do outro, acham que o diferente é pior. Eu nunca entendi bem isso, por isso fui embora tantas vezes de tantos lugares... Quis dar o meu lugar, porque saber que haviam pessoas capazes de fazer tudo para tê-lo, julgá-lo ou me considerarem incapaz de estar lá, ficando, inclusive, contra mim, me machucava bastante.

Acho que nunca me fiz compreender bem pelos outros, mas me entendo um pouco, pois, quase ninguém quis saber sobre mim por muito tempo. Sempre me acostumei com as pessoas indo embora sem falar o porquê, depois de um tempo passei a me antecipar a isso e, antes que me dissessem que iriam embora, ou antes que sumissem da minha vida, ou me dissessem algo ruim, eu tentava achar outra coisa pra viver. Só queria ficar com minha mente vazia, pois os sentimentos confusos, embora frequentes e naturais no meu dia a dia, me cansavam (ainda cansam), fui criando estratégias para fugir disso, para minimizar o impacto disso em mim e me tornei o que sou hoje: pior do que eu era e sem ninguém de novo. Pode parecer incrível, mas todos os que conheci há 10 anos foram embora... O amor acabou. A amizade acabou. Tudo virou decepção por minha culpa, porque eu tentei resolver as coisas, não sofrer tanto, evitar decepções e me expressar dizendo o que realmente penso, ou, pelo menos, achando que estava fazendo isso, sem perceber onde errei. Notei que não sou muito boa nisso, preciso melhorar talvez... Não sei. Não quero mais receitas pra acertar porque errei em todas as receitas que usei, e sei que as pessoas nunca irão voltar a trás pra dizer o que você precisa fazer por elas, sem deixar de lado o que você é. Mas talvez o que você é, em sua pior e mais deteriorante esfera, não as interesse.

Hoje não tenho mais esperanças. Coisas nas quais eu acreditava fielmente antes, não acredito mais. Não falo e nem escrevo mais do mesmo jeito. O que eu achava que estava certo estava errado. Muitos dos que diziam que Deus me amava como sou sequer conseguem olhar pra minha cara hoje. Eu não fiz o que ninguém esperava que eu fizesse. Por esse motivo fui instável e decepcionante, ai nenhum amor mais, do maior ao menor, nenhum deles suportou (acho que com certa razão).

Assumir meus erros também não adiantou de nada. Acho que os erros são eternos e que carregarei sempre comigo os cânceres que provoquei com cada um deles; e talvez eu mesma tenha cânceres hoje por conta disso, pois todas as pessoas que saíram feridas por minha culpa têm muitas coisas boas em si e a tendência é que estas se recuperem dos males que eu fiz a todas elas, o contrário eu não sei.

Antes eu rezava com mais afinco pedindo isso, mas hoje eu já não sei mais o que é fruto da minha imaginação e o que não é. Não sei o que pedir em nome de alguém ou por alguém. Posso atrapalhar mais do que ajudar fazendo isso. Os meus dois mundos se misturaram e eu não consigo mais separa-los. Não tenho a menor ideia do que vai ser daqui pra frente, assim como não tenho a menor ideia do que “é” atualmente. São confusões que não entendo e que não sei explicar. Queria não sofrer com isso e queria que ninguém sofresse também, mas não sei como fazer.

E, por fim, pode não parecer ter sentido algum, mas, é extremamente difícil, para mim, conseguir dar continuidade as coisas corriqueiras que faço hoje. Estudar o que eu amo estudar e ser o que eu sempre quis ser é um desafio mais do que diário. Acordar e enfrentar a realidade é duro. Minha cabeça pesa e sempre tem algum “q” de insatisfação e incapacidade em tudo. Não consigo me imaginar terminando nenhuma tarefa e, a cada dia isso fica ainda mais difícil. Às vezes não quero me levantar, da cama, da queda, do medo, de nada. Fico planejando mil desculpas para ir embora, para não ter que aparecer. Fico contando com esperanças inventadas, é difícil, uma luta que eu não sei como começou. É um sentimento que virou rotina, convivo com ele todos os dias e, por outro lado, perdi alguns sentimentos e características que me ajudavam a cativar as pessoas também. Nem as que eu amo e as que me amam eu consigo cativar mais. Minha mente voa e as coisas ficam por ai, espalhadas em mim, mas sou apenas uma hospedaria para elas, pois não me pertencem e eu nem mesmo sei o que fazer com elas. Talvez eu esteja presa, e talvez ninguém consiga mais me amar, por mais que eu tente mostrar algo que valha a pena, pois na verdade eu não acho que eu tenha algo desse tipo. Não sou verdadeira, e nem sei se existo... Nem sei...