No Salão do Rei da Montanha

A chama de sua tocha desenhava grotescas criaturas de sombra nas paredes à medida que Lucius avançava cambaleando pelo estreito corredor, com seus pulmões suplicando por um ar menos denso e pútrido. A bússola e o que sobrou de sua equipe ficaram para trás e nada o faria voltar. Sentia o desespero a abocanhar-lhe os calcanhares. Então as paredes e o teto se distanciaram e ele sentiu que adentrara em algo semelhante a uma câmara e não mais estava na galeria intrincada de corredores. O ar tornou-se insuportável, suas vísceras se retorceram. A chama minguou, denotando a escassez de oxigênio. A câmara era de uma estrutura e acabamento diferente dos corredores. Era em formato de ponta de lança, e suas paredes, embora enegrecidas pelo mofo e poeira, davam a entender que algum dia já haviam conservado alguma beleza. Na parte mais íngreme e pontiaguda, havia algo que era impossível passar despercebido para qualquer um que adentrasse o pórtico de entrada. Era algo semelhante a um assento gigantesco, ornamentado com uma estrutura bizarra e assustadora, como se o esqueleto de algum monstro escabroso estivesse montado logo à sua frente. Seria aquele “O Trono”? Lucius estava preso aos detalhes e não percebeu que havia algo sentado ali observando-o. Alguns passos a mais e ele contemplou a criatura que já se erguia lentamente. Ele sentiu o sangue descer congelando nuca abaixo. O que se movia em sua direção tinha a altura, os membros inferiores e superiores e o caminhar que lembravam um humano. Mas o pouco que se revelava de sua face estava distante de qualquer humanidade. Lucius quis correr, mas seus joelhos travaram e sentiu como se seus pés tivessem criado raízes prendendo-o ao chão. Quanto mais “aquilo” se aproximava, mais a luz enfraquecia, e o pânico assumia o controle do seu corpo. Ele sentiu o sussurro peçonhento de seu anfitrião penetrar em seus tímpanos como facas afiadas:

- Herdeiro. Sucessão.

Lucius sentiu o sangue fugir-lhe das faces, ele percebeu que, de alguma maneira a luz fugia do ser que se aproximava. Estavam a dois passos um do outro, quando em uma atitude desesperada e insana, ele atirou a tocha na cara da criatura. Ele viu no lampejo da tocha a face enegrecida e putrefata com um arremedo de sorriso demoníaco. Lucius sentiu seus intestinos esvaziarem. Ele queria juntar a tocha do chão e correr, mas o desespero o petrificou. A esperança de que tudo fosse um pesadelo e que logo acordaria se esvaiu quando a mão esquálida e gélida tocou seu pescoço e a chama da tocha cedeu às trevas, que consumiram também sua consciência.

Fábio Monteiro
Enviado por Fábio Monteiro em 02/06/2011
Código do texto: T3008808
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