Lição de vida
Desde cedo me vi envolvida com livros e jornais e pessoas
vindo a minha casa para o café da manhã.
Meus pais , amantes das artes, se reuniam mensalmente para os haicais que eram lidos e transcritos em tiras de papel.
Participavam das danças folclóricas valorizando as tradições e costumes da terra natal.
Minha mãe faleceu em setembro, de forma repentina, deixando muita dor e saudades...
E a vida seguiu seu rumo natural;até que um dia meu pai, sentiu-se mal e iniciou o tratamento médico.
Uma noite, ele começou a implicar com a comida e eu, já exausta após, um dia de trabalho,chorei e fui a um canto escrevi meu primeiro poema, uma oração,pedindo a Deus serenidade para me manter tranquila naquele momento .
Passaram-se alguns meses e minha tia,evangélica fervorosa,trouxe um pastor para convertê-lo; ateu por natureza, meu pai disse que dependia somente de seus filhos e mais ninguém.
Em junho,tirei uma licença médica para cuidar de meu pai;como seu médico havia ido ao exterior participar de seminários,tivemos que interná-lo no hospital em que havia um médico oriental para que ele se sentisse mais seguro como também para facilitar a comunicação.
No Hospital Erasto Gaetner,hospital do câncer, tive uma visão diferente da vida;morando durante quase dois meses em um dos apartamentos, aprendi que a solidariedade caminha ao lado da dor, do desespero.
Passei momentos cruciantes na pós cirurgia,em que o dreno não deu conta e me vi envolvida com um líquido pastoso ,cheiro de borracha queimada;na crise de taquicardia liguei para uma conhecida que com palavras tranquilizadoras me fez voltar a razão e a partir daquele dia Deus me acompanhou em todos os momentos.
O médico deu cinco dias de vida e seguindo seu desejo trouxemos meu pai para casa,onde montamos equipamentos e contratamos duas enfermeiras que se revezavam á noite.
Todo dia ele se vestia e dizia que iria morrer,tinha visões com pessoas que já haviam falecido.
Semanas depois,ele pediu que todos ficassem no quarto e naquele dia à noite uma das enfermeiras veio nos comunicar que não voltaria mais pois não estava aguentando presenciar tanto sofrimento.
Ao amanhecer, ele pediu a presença de meu irmão cristão que
ficava ao seu lado, lendo a bíblia; contou que havia visto uma pessoa que lhe estendeu a mão e que quando ia pegá-la essa pessoa pessoa pediu-lhe que voltasse .
Cristo?-perguntou meu irmão....e ele deu de ombros como se dissesse não sei...
Meu pai ,com as mãos em preces,pediu a presença do amigo dele, pintor e seguidor da religião da minha tia.E, em seguida apareceu minha prima que,nervosa, havia chegado de uma outra cidade.
O amigo chegou e começou a conversar com meu pai, encaminhando e confortando-o ...-" Um dia; dizia ele, você vai me receber como agora em que você vai junto com os seus: arrependa-se e siga seu caminho.Entregue seu coração a Deus".
Todos saíram do quarto chorando..eu entrei, ele me pediu para arrumar os travesseiros em suas costas, uma lágrima rolou,fechou os olhos e ele se foi....
Uma paz,uma sensação inexplicável se apossou de todos...
enfim ele se encontrou e nos deixou uma grande lição de vida.
A fé que hoje me acompanha, a certeza da presença divina em todos os meus momentos é em decorrência do tempo em que aprendi o verdadeiro sentido da vida junto ao meu pai...
Anos após cumpri junto com minhas amigas a promessa feita e retornei ao Hospital visitar a ala infantil, onde passava as tardes livres( e a enfermaria) onde tive oportunidade de conhecer pessoas que me fizeram crescer e
onde comecei a colocar no papel meus sentimentos e emoções.