A PESCARIA

Sexta feira, dia de planejar o fim de semana e estávamos, o Olímpio e eu no tradicional chopinho de sexta “after six” planejando uma pescaria para o findi. Era verão e o chope gelado caia redondo. (ainda não havia a Skol). Iríamos acampar no rancho de sapê do meu avô, as margens do rio Jacuí, uns 2 km abaixo do centro de Rio Pardo na localidade de Porto Ferreira. Faltavam ainda alguns detalhes, quando a figura da Martinha surgiu como uma visão entre nós, distraídos que estávamos. O Olímpio, obviamente lembrou-se de algum compromisso e pedindo licença, afastou-se, fez um sinal de positivo, pegou sua bicicleta e sumiu. Sabia que a pescaria no mínimo teria alguma alteração no plano original. A Martinha havia combinado passar o fim de semana com a Claudinha na casa de uns tios dela em Santo Amaro e obviamente já tinha um plano para me convencer a ir junto.

Argumentei que havia combinado a pescaria com o Olímpio e naquela época trato era trato e pronto. Pronto! Os grandes olhos verdes da Martinha brilharam.

– Pescaria? Eu vou junto. Vou falar com a lambisgóia da Sonia pra ir com a Claudinha, assim ela não vai ficar rondando a minha ausência pra tentar te tirar de mim. Pronto. Lá se foi o sossego. Eu amava aquela garota e é claro que leva-la na pescaria já me deixava excitado. Ela estava com uma saia curta e sentou-se ao meu lado puxando a cadeira para perto e sua mão suave buscava minha zona mais erótica. A partir daqui, eu sabia que ela iria conseguir. Suas pernas bem torneadas e a pele macia e sedosa roçaram as minhas e acabaram de vez com qualquer argumento. O que me preocupava era, qual as fantasias que ela iria imaginar desta vez.

Já havíamos feito sexo em baixo da igreja, num vagão ferroviário e até no velho jipe do pai dela, na garagem da casa. Eu sabia que a cabecinha já estava imaginando algum outro estranho ninho. Derrotado pelo incrível poder de sedução que ela exercia sobre mim, não me restou alternativa. Se bem que eu já imaginava também minhas próprias fantasias.

Saímos na madrugada de sábado, mal o dia estava raiando e rumamos para o Porto Ferreira. Eu a Martinha e o Olímpio, que mesmo que estivesse contrariado com a presença dela, não diria nada. Apenas lamentava que a Claudinha não o acompanhasse, pois não era de mudar planos embora ele tivesse tentado. Embora o Rio ficasse mais próximo de onde morávamos do que da cidade, foram uma hora e meia de caminhada por trilhas e terras de pessoas conhecidas. A bicicleta do Olímpio, parecia uma mula, carregada com sacolas e outros badulaques típicos como sacos com os porongos e espinheis. Isto nos obrigava a transpor cercas e outros obstáculos, desmontando tudo e montando novamente. Eu e o Olímpio nos revezávamos na tarefa de rebocar a bicicleta. Passamos em casa da minha avó para pegar uns pães que ela fazia como ninguém. No meu tio pegamos, ovos, lingüiça e mais alguns mantimentos como precaução, por que a estas alturas o que menos iríamos conseguir era pescar... Eu pelo menos. Chegando ao rancho, uma construção de pau a pique como coberta com palhas de sapê bem tramadas para evitar a chuva. Havia duas tarimbas de bambu, amarradas com imbira e igualmente forradas com palha.

Duas laterais possuíam paredes de palha tramada entre estacas de bambu, mas o resto era aberto. Enquanto arrumávamos o local, o Olímpio cuidava de fazer fogo para prepararmos um carreteiro de lingüiça. Colocamos umas garrafas de cerveja para esfriar numa fonte de água cristalina, que jorrava entre umas pedras a margem de um barranco. Era nossa água potável. O dia estava quente e após o almoço, acomodei-me com a martinha em uma das tarimbas para um cochilo. À tarde fomos buscar o meu caíque que ficava sob a guarda de um pescador de quem o havia comprado no verão passado. Era um barco muito bom, leve e veloz. Decidimos preparar um espinhel com 40 anzóis e coloca-lo na água ao anoitecer. Assim foi feito. A Martinha não entendia nada de espinhel, mas, tentava ajudar e esforçava-se para colaborar. Não permitia que de alguma forma pudéssemos pensar que ela estava atrapalhando. A noite chegou e após uma requentada no carreteiro, sentamo-nos ao redor do fogo e ficamos horas relembrando histórias e bebericando uma cachaça que o Olímpio levara. Eu havia preparado um café e depois de verificar os espinheis e constatar que não havíamos pescado nada, resolvemos dormir. A noite estava agradável e o Olímpio resolveu dormir fora do rancho. Estendeu uns cobertores sobre a relva e deu boa noite. Para espantarmos os mosquitos, queimávamos excrementos secos de algumas cabeças de gado do meu avô que andavam por ali. A noite enluarada e uma suave brisa nos convidava à contemplação. Deitados em uma das tarimbas apenas com um lençol leve sobre nossos corpos. Martinha ao meu lado me beijava e arregalava os olhos cada vez que ouvia um farfalhar de folhas ou sons de aves noturnas comuns naquele local. Ao perceber que o Olímpio já roncava, começou a beijar o meu peito e ia e... parou. Os olhinhos brilharam e eu já sabia o que vinha.

– Sabe aquela árvore grande que tem ali à direita?

– Sim. Respondi. È uma árvore centenária, já estava ali quando meu avô era garoto.

– Pois é! hoje de tarde eu examinei e subi até onde começam aqueles galhos grossos. No meio dá até pra deitar, é bastante largo.

– Sim, respondi, quando era garoto costumava subir ali... Acabava de me dar conta de que a martinha,

- Pois é, falou, estava pensando em... Senti sua mão sobre minhas partes mais sensíveis e obviamente que se recusasse, ela iria apertar e puxar.

– Já sei. Fazendo o máximo silêncio possível para não acordar o Olímpio. Estávamos subindo com cobertores etc. Acomodamo-nos e ela suavemente puxava meu calção enquanto nos beijávamos e em pouco tempo estávamos novamente em ação fazendo o que mais gostávamos e cumprindo mais uma das loucas fantasias da Martinha. Eu sentia sua respiração ofegante e seu corpo parecia em brasa, seu coração dava impressão de que iria saltar fora do peito. Mas, ela era assim. Fazer amor nos lugares mais improváveis a fazia excitar-se intensamente. Confesso que isso também me fazia vibrar em uma freqüência fora do normal. Depois de um clímax total e intenso, fumamos um cigarro e resolvemos tomar um banho. A água do rio estava incrivelmente morna e agradável e assim ficamos. Não dava vontade de sair. – Lembra aquela vez no Rio?

– Claro, como iria esquecer?

– Quero de novo!

Começamos tudo novamente e desta vez a excitação era ainda maior e estávamos novamente as voltas com nossos mais íntimos desejos vindo a tona novamente num turbilhão de paixão incontrolável. Um pescador ao longe olhava-nos, imaginando certamente o que estávamos fazendo. Voltamos para a árvore e resolvemos dormir ali mesmo enroscados um no outro. Acordamos com o Olímpio chamando e procurando-nos. Quando viu onde estávamos caiu na risada.

– Vocês são completamente pirados. Vou fazer um chimarrão, podem dormir mais uma pouco. Mas, o ar da manhã, a algazarra dos pássaros e certamente a fumaça do fogo, não iriam permitir. Levantamos, ou melhor, descemos e fomos curtir um chimarrão matinal em companhia do Olímpio. Lembramos do espinhel e depois de mais umas cuias de mate, fomos recolher e desta vez haviam 3 pintados capturados. O dia transcorreu normalmente sem incidentes ou novas loucuras da Martinha. Fritamos os peixes e os saboreamos regados a cerveja. Numa coisa a Martinha ganhava da gente. Era especialista em limpar peixe.

A noite de domingo, estava clara, enluarada e a água do rio parecia um espelho. Sentamo-nos a volta do fogo e o Olímpio de vez em quando lamentava a ausência da Claudinha. Comentamos que faríamos uma nova pescaria desta vez em família. Cada um com seu par. Já era uma hora da madrugada quando resolvemos nos recolher. Desta vez ficamos no rancho e o Olímpio foi dormir na árvore. A Martinha deitada com a cabeça sobre o meu ombro, começou a me acariciar e senti um arrepio. Ela me beijou e olhando-me nos olhos,

- Nunca andei de barco de madrugada! Vamos dar uma volta?

– Claro! Não adiantaria negar. Enquanto desamarrava o barco, a Martinha tinha ido ao “banheiro” e voltava com os cobertores e travesseiros nos braços. Não tardou para perceber que ela já imaginara outra. – Subimos uns 3 km rio acima até próximo a ponte de Rio Pardo. Ela havia estendido os cobertores no assoalho e deitada de lado brincava com a mão na água enquanto eu remava. Dei a volta e rio abaixo era mais fácil.

– Deita aqui, falou, segura o remo como leme e deixe deslizar. Havia uma presilha na popa e prendi o remo, assim podia controlar até com o pé. Não deu outra. Deitei a seu lado e suavemente insinuou-se carinhosamente e logicamente ela já havia planejado tudo. Estávamos novamente fazendo amor num pequeno barco quase descontrolado ao sabor da correnteza. O rio estava calmo e o suave balanço do barco tornou a aventura mais excitante. Não duvidava de uma coisa, ela sempre imaginava um jeito de tornar as coisas mais românticas e sensuais. Passamos uns 2 km do local do acampamento e ao final, tive que arranjar forças para remar de volta rio acima. Ela me olhava enquanto eu remava e parecia que saboreava cada momento relembrando os nossos loucos atos de amor. Dois apaixonados incorrigíveis era o que éramos. Exaustos, fomos finalmente dormir porque na manhã seguinte bem cedo precisávamos voltar. Pela manhã ao levantarmos notamos que o Olímpio resolvera descer da árvore e estava deitado em sua cama no gramado. Falei com ele, não respondeu. Estava deitado de costas com os olhos arregalados e movia-os para baixo tentando indicar-me um volume estranho sobre seu peito Uma cobra. O Olímpio tinha uma cobra enroscada sobre o peito sob o cobertor.

- Não te movas em hipótese nenhuma, agüenta até o sol esquentar e espera que ela vá embora. O Olímpio suava frio e a Martinha agarrada em meu braço tremia como vara verde. As cobras têm o sangue frio e ao aquecer com o sol iria mover-se. Esperamos ainda um bom tempo. Finalmente um belíssimo exemplar de uma muçurana, (cobra dágua, preta, lustrosa e inofensiva) começou lentamente a deslizar suavemente ganhando o rumo do rio. Observávamos sua cabeça erguida nadando velozmente em direção a margem oposta. O Olímpio levou ainda um tempo para desfazer-se do imenso susto que levara. Enquanto arrumávamos as mochilas, Martinha chegou ao meu lado e falou,

- Não podemos ir agora.

– Por quê? Perguntei.

- Bem, a Claudinha volta só à tardinha e minha mãe pensa que eu estou com ela. Vamos à noitinha e nos separamos antes, pra ninguém perceber.

Assim, nos despedimos do Olímpio e ficamos a sós.

Bem isto já é uma outra história.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 11/04/2010
Código do texto: T2190874
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