O SR BRÁS...

Era uns dias antes da Páscoa, quando minha irmã e eu passeávamos

pelos arredores da cidade e um carro parou à nossa frente . A placa era de Brasília. O motorista, um senhor de uns cinquenta anos aproximadamente, nos perguntou se a gente sabia sobre algum sítio à venda na região, pois ele estava interessado em comprar...

Minha irmã, muito alegre respondeu, imediatamente:

- Tenho um para vender!

Que coincidência...

Entramos no carro dele e fomos até à casa da nossa família para avisar que iríamos mostrar o sítio para aquele senhor. Enquanto isso, ele nos exibiu uma fotografia de sua esposa com seu filhinho (ela era bem jovem para ele e muito bonita). Disse que estava arrasado porque tinha perdido os dois num acidente de carro, recentemente. Era fazendeiro e estava querendo comprar umas terras na nossa região para mudar o rumo de sua vida e nos mostrou uma relação de suas

propriedades. Afirmava ainda, que estava tão desorientado, que viajava com uma quantia grande de dinheiro no carro, para comprar uma propriedade em nossa região.

Apresentamos o Sr Brás para a nossa família, e o levamos para conhecer o sítio. Ele gostou tanto que decidiu comprá-lo e pediu para minha irmã passar a escritura, logo na segunda-feira, após o domingo de Páscoa... Enquanto isso, ele resolveu dormir num hotel na cidade vizinha e vinha nos visitar diariamente. Sabia conversar sobre muitos

assuntos e a minha família gostou muito dele ainda mais que iam conseguir vender o sítio por um bom valor, e à vista ! Ele chegou a mostrar um revólver que escondia na meia, todo alegre...

Ele estava com um carro zero e dizia que não estava gostando do mesmo, propondo uma troca...Como a minha família não tinha o carro que ele queria fomos até à casa de um casal para ajudá-lo a trocar o seu carro. Depois de muita conversa, ficaram todos amigos, lancharam juntos, foram até ao sítio para conversarem sobre um trabalho de mão-

de-obra a ser realizado assim que o Sr. Brás comprasse o mesmo. Ele almoçou com a nossa família, recebeu ovos de páscoa de presente e todos alegres aguardavam a segunda-feira para irem ao Cartório.

O casal resolveu trocar seu carro com o dele...

O que mais me intrigava na aparência daquele senhor era a falha de dentes na frente e seus músculos fortes... Bem, se ele era fazendeiro, com tantas propriedades, como deixou de tratar os seus dentes ? Ele se explicava, dizendo que estava tão desgostoso com a morte de sua mulher e do seu filhinho que nada mais importava para ele, etc...

Bem, finalmente a segunda-feira chegou...

Minha irmã e o meu sobrinho foram para o Cartório, conforme combinado, às 10h00, e esperaram, esperaram... e nada de o Sr. Brás chegar... Aí é que o meu sobrinho constatou que ele não viria... era o golpe do carro !

Bem, o casal que ficou com o carro dele ligou imediatamente para a polícia e foi informado que era um carro roubado em Brasília. A foto que ele nos mostrara, era da proprietária do veículo...

Passados uns dias, o casal recebeu uma cartinha do Sr. Brás, muito "amigável", dizendo que eles podiam ir até à cidade... pegar o carro que ele deixara numa oficina para devolver a eles...

Quando chegaram lá, com a polícia, encontraram somente a carcaça do seu carro. O Sr. Brás tinha vendido o motor !

Soubemos depois, que ele dormia no carro a noite toda ao lado da casa de minha família, e de manhã, cedinho, já estava lá para tomar o café da manhã e depois almoçar e tomar o lanche da tarde na casa do casal, nossos amigos.

Essa figura realmente, ficou na nossa história de vida.

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Helenice Rodrigues
Enviado por Helenice Rodrigues em 07/09/2009
Reeditado em 07/09/2009
Código do texto: T1796954
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