Dia de finados
Dia de Finados
Sua figura esbelta vestida de preto, junto à sepultura do marido morto prematuramente, quem sabe? A face de uma tristeza sóbria, sem lágrimas, sem esgares; apenas uma tristeza tranqüila, onde os pensamentos voavam pelo chamado campo santo, misturando-se às deprecações das almas errantes que, por comemoração, adejam pelo cemitério somente nos dias de finados. Lógico, que nos demais dias do ano, as pessoas só compareciam para deixar seus mortos descansando em paz. A figura se impunha pela sobriedade e olhar distante; não havia perdido o marido, não era uma jovem viúva; era uma jovem solteira que nos dias de finados não perdia a oportunidade de ali encontrar uma alma gêmea, com quem pudesse compartilhar dias felizes por muitos e muitos anos. Impressionado, aproximou-se e tentou dizer-lhe uma palavra de conforto, sentindo, não ser necessário, pois, imediatamente sorriu com dentes de uma alvura desconcertante, estendendo-lhe a mão num cumprimento distinto. Ficou sabendo do que se tratava em poucos minutos; comparecia sempre em finados, para rezar pela alma de um parente a quem devia muitos favores, atenções e saudades. A conversa se prolongou e caminharam animados pelas aléias, com as mais puras intenções, sem qualquer pensamento vulgar. Longe, numa das quadras mais afastadas, ela manifestou desejo de que ficassem a sós, quem sabe aproveitando um jazigo perpétuo próximo dali, sem porta de cadeado, onde poderiam entrar e cometer algumas loucuras; ao notar a inscrição no túmulo - descanso eterno de Celeste - tomado de intenso pânico saiu de carreira, sequer sem olhar para trás, deixando a pobre moça decepcionada - será que ele a confundiu com Celeste?