A Lua de Londres
A lua de Londres roubou meu amor. Numa noite de tempestade, destruiu a ponte que nos unia, único caminho direto entre dois corações. A chuva forte castigava nossos corpos, moia nossos ossos e congelava nossa paixão.
Na manhã seguinte o jornal noticiou: “A Lua de Londres fez o vento soprar forte. Os pássaros não voaram, um cão morreu. Um casaco e um paletó foram encontrados rasgados. Um grave acidente aconteceu.”
E assim, desse jeito inusitado, foi informado aos leitores do diário que “A lua de Londres” mais um crime cometeu.
Mas, estranhamente, os corpos não foram enterrados, ao contrário, impregnados de aromas e perfumes. Embalsamados e colocados juntos num abraço terno para a visitação pública.
E, nas noites frias de inverno, os casais se uniam em paixão pelas ruas da velha cidade e visitavam os amantes em seu descanso eterno. Numa procissão silenciosa, levavam nas mãos, velas perfumadas e flores. E esperavam que o pássaro não voasse, que um cão não ladrasse, e os ventos começassem a soprar forte.
Assim, depois que o último fruto caiu da árvore, a Lua de Londres apareceu no céu, trazendo tempestade e chuva, castigando os fiéis e congelando os corações dos apaixonados. Na manhã seguinte o jornal noticiava: “Um cão matou uma lebre, o sol não aqueceu a Terra naquela noite. E os fiéis maravilhados, diziam surpresos: - Ontem choveu muito.”
Esta é a lenda da Lua de Londres, que em noites cheias, trazia uma história nova para o povo contar.