ZÉ MANÉ TIBIRIÇÁ
ZÉ MANÉ TIBIRIÇÁ
Em um arraial do Leste de Minas morava um pequeno fazendeiro, e, este tinha um filho mudo. Ele quando ia para o roçado levava o garoto de sete anos para ajudá-lo, ao mesmo tempo em que ia tentando ensinar ao guri a arte e a prática da agricultura. O garoto era esperto e prestava atenção em tudo, só não falava mesmo.
Numa bela quarta-feira de abril o fazendeiro e o menino construíram um espantalho para colocá-lo no arrozal... O homem pôs o nome no espantalho de Zé Mané Tibiriçá de tão feio, desengonçado e esquisito que ele era, tendo inclusive as pernas tortas e os olhos esbugalhados feitos de caroços de manga ouro.
Ele disse ao garoto: o nome deste espantalho é Zé Mané Tibiriçá, guarde este nome e sempre que vir aqui no arrozal bata na bunda dele para dar sorte. O menino abanou a cabeça, dando seu entendimento e compreensão do que seu pai falara.
No mês de novembro do ano de 1952 começou a chover forte na região e adjacências.
Com a chuva daquele ano, no arraial de Jampruca, Vale do Rio Doce, (capital mineira da linguiça) começou a dar uma tempestade, com trovoadas e raios, e, a tempestade aumentara consideravelmente, arrasando o povoado e muitas terras da região. E, ela atingiu a fazenda do Bessinha, levando o espantalho Zé Mané Tibiriçá rio abaixo, e, este fora parar na pequena cidade de Campanário, exatamente na praça à porta da igreja matriz.
Existia um convento de freiras naquela cidadezinha, e, as beatas vendo aquela grotesca e tosca figura à porta da igreja o tomara por um sinal de Deus e o levara para dentro da igreja deixando-o num canto do altar-mor.
No domingo os fiéis, como o de costume, foram para a missa rezada pelo padre João ajudado pelas beatas e pelo sacristão Zé Bento. Ao término da missa alguns fiéis vendo o espantalho se aproximaram dele e começaram a rezar e até colocaram esmolas ao seu pé, tomando-o por um novo santo. As beatas assistiram as cenas e cochicharam entre si.
A notícia do novo `santo´ espalhou-se pela cidade e pela região, tendo algumas pessoas afirmado que recebera bênção e milagre daquele maravilhoso enviado de Deus. E a novidade correu de boca-em-boca, chegando aos ouvidos do fazendeiro Bessinha que espalhou os acontecidos pelo arraial, comunicando à sua mulher que pretendia levar o filho mudo para ver o santo milagreiro de Campanário.
Num domingo de setembro de 1953 lá se foi o fazendeiro e o garoto para visitar o `santo´. Em chegando à praça ele subiu as escadarias rezando e contrito, pondo fé no santo. Ele e o garoto sentaram-se na última fileira de bancos da matriz, assistindo a missa do padre João e rezando para que ocorresse um milagre.
Terminado a missa, os dois visitantes foram até o altar-mor, e, aconteceu o inacreditável: O garoto vendo o falado `santo´, aproximou-se do espantalho, bateu-lhe na poupança e disse: este `santo´ não é `santo´... É o Zé Mané Tibiriçá...
Milagre. - Dissera alto o fazendeiro.
Mi-i-la-a-gre. - Gritaram alto as beatas!
E quem disse que o fazendeiro trouxera o espantalho para a fazenda. As beatas não deixaram o `santo´ sair do altar-mor, e, ainda acenderam velas para o espírito do espantalho que acabara de fazer mais um milagre: O menino estava curado da mudez.
E acabou o causo que, entrou na boca do porco e, saiu no bico do pinto, quem souber de causo melhor, me conte cinco ao quinto.
F I M.
PS: [Inspirado numa música caipira de Moreno e Moreninho]