Centro-oeste

Via seu marido todos os dias, numa rotina já sem novidades, examinar, comprar e arrumar com cuidado os pequenos maxixes na gaiola. Retirava as cumbuquinhas plásticas transparentes, jogava os antigos fora e colocava os novos. Depois com os dedos sabidos puxava o chão dos bichinhos com dupla preocupação: não cortar os dedos e não sujar o assoalho arranhado e gasto. Ele trocava o jornal dobrando as pontinhas em fino acabamento, recolocava o fundo de latão no lugar e depositava as cumbucas devidamente trocadas nos mesmos cantos de sempre: debaixo dos poleiros. Os pássaros do pantanal já nem se assustavam mais - nem bem ele retirava a mão já comiam com prazer. Ela cismou de provar também aqueles maxixes. Comprou na feira e cozinhou para o almoço com fartos temperos caseiros. Foi fumegante o prato para a mesa limpa de algodão crochetado. Fartou-se de comer e repetiu mais duas vezes. No outro dia sentiu vontade louca de comer novos maxixes, desta vez assados no forno a lenha. Nunca vira nada tão delicioso. Começou então a prepará-los de todas as maneiras culinárias que podia inventar. O marido já comprava o triplo da quantidade que antes costumava e já estava enjoado do mesmo gosto de comida no almoço e no jantar, todo santo dia. Achou estranho a mulher ter gostado tanto do legume sem graça, que não enchia o estômago nem saciava a fome. E foi pensando em sugerir à mulher que trocasse de preferência que entrou na cozinha de surpresa, quando já alto ia o sol do meio-dia. Mas ao entrar, ao invés de vê-la junto ao fogão, viu seu vestido de florezinhas matizadas em cima da janela e depois seu vulto indo em direção da mata, voando cada vez mais alto.

Tatiana Brioschi
Enviado por Tatiana Brioschi em 31/01/2009
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