Sonho ou realidade?
SONHO OU REALIDADE?
Tonha – contista: antoniazilma@hotmail.com
João, um homem de sessenta e sete anos, comerciante, casado, cheio de vitalidade, conta que desde criança sentia a falta de um pai, pois quando ele tinha nove meses, seu pai foi passar dois anos na Amazônia, para fugir da guerra. Só que, os anos se passaram, ele não voltou e ninguém da família teve mais notícias.
Até que quarenta e sete anos depois, uma das filhas de João, ao vê-lo chorando, perguntou-lhe:
“- Pai, porque o senhor está chorando?”
João logo lhe respondeu:
“- Minha filha, hoje é dia dos pais e choro porque sempre tive muita vontade de conhecer o meu pai”.
Sua filha lhe fez outra pergunta:
“-Pai, porque será que seu pai, meu avô, não voltou?”
Seu pai lhe responde:
“- Minha filha, ele morreu”.
“- Morreu nada! Se minha avó (paterna) ainda está viva, ele também pode está”, respondeu a menina.
Logo após abraçou seu pai e foi dormir. No dia seguinte, ela olha para seu pai e diz:
“- Pai, sonhei com meu avô vindo aqui atrás do senhor. Não disse que ele estava vivo?”
“- Querida, você sonhou porque estávamos conversando sobre isso”, disse senhor João.
No entanto, este sonho se repetia com freqüência todas as vezes que Ceiça dormia, deixando a família da jovem preocupada. Maria, sua mãe, resolveu levar a garota ao psiquiatra. Rezava para Nossa Senhora do Desterro, na tentativa de libertar a filha da idéia de que seu avô pudesse estar vivo. Então, Ceiça, a jovem garota, resolveu pedir a sua avó pra ver uma foto de seu avô, mas foi em vão, porque não havia fotos dele. Então, Ceiça, perguntou a sua avó:
“- Como era o jeito do meu avô?”
Sua avó lhe respondeu:
“- Ele era alto, forte, tinha olhos castanhos, era moreno claro, tinha cabelos lisos e pretos, gostava de usar chapéu e era muito trabalhador”.
Ceiça ficou triste e falou:
“- Ah! Então estou ficando é doida! Nos meus sonhos ele sempre aparece sem chapéu e não é alto: é magro! Sim! Ele também tem a pele bastante engelhada”.
Sua avó lhe deu um conselho:
“- Peça a Deus para esquecer-se destes sonhos. Na verdade, se seu avô estivesse vivo ele não era do mesmo jeito. O tempo muda as pessoas”.
Ceiça resolveu não tocar mais no assunto e começou a escrever sobre o que sentia, porque ninguém acreditava nela, nem mesmo João, seu pai.
Um ano se passou. A cena se repetia: João sentindo a falta do pai, achando que ele havia morrido...
De repente, um homem forte, alto, olhos castanhos, moreno claro, chega até a porta e pergunta:
“- Vocês, por gentileza, podem me informar onde é a casa de João Batista?”
A menina respondeu apontando para seu pai:
“- Este é João, meu pai”.
Seu pai, ao observar que havia outra pessoa com o homem desconhecido, perguntou:
“- O que você quer?”
“- Eu me chamo José Batista da Silva, venho mais meu pai e procuro por um irmão chamado João Batista da Silva. Tive informações de que ele mora aqui. Vim com meu pai porque ele só terá sossego quando reencontrar este filho”.
Enquanto isso, o pai dos dois – João Batista – ia saindo de dentro do carro, já idoso, voz cansada, cabelos lisos e brancos. Ao se aproximar da calçada, foi surpreendido por João – o pai de Ceiça –, que emocionado lhe estendeu a mão para ajudá-lo a subir.
João, pai de Ceiça, apenas lhe perguntou:
“- Por que só agora?”
Seu pai lhe respondeu:
“- Meu filho, a história é muito longa, mas estou aqui. Sei que o tempo não volta, mas quero que você entenda tudo em duas palavras: eu sofri...