A MALDIÇÃO DO FANTASMA - Parte IV (final) - O Desfecho

– Estás vendo? – Disse ela.

– Estás lembrando? – e riu, uma risada terrível, sarcástica, extremamente cruel. – Vou mostrar-te mais uma coisinha!

Senti como se um ciclone se apoderasse de mim. Estava com ela, no alto da cidade. Vi que havia um incêndio. Um quarteirão inteiro estava em chamas.

De repente, ela levou-me a uma sala, muito branca, silenciosa, na penumbra.

– Quero te dar mais um presentinho!

Percebi que estávamos no cemitério, em uma das capelas mortuárias. Havia muita gente. Flores. No meio da sala, um caixão. Gritei desesperada:

– Não!! O meu amado não!! Ele não!!

Ela riu de novo e as luzinhas que saiam dos olhos das cobras em sua cabeça pareciam gargalhar também. Em um segundo, estávamos do lado de fora da capela mortuária e, entre os túmulos (que, com suas coroas lamuriosas e seu barulho de metal sob o vento da noite, pareciam assustadores) havia um aberto, bem embaixo, nas terríveis prateleiras de gavetas onde eram depositados os restos das pessoas mortas, como matérias sem serventia, usadas e jogadas fora, para apodrecer na umidade pútrida e na escuridão solitária dos que nada mais são. Era um buraco escuro, velho, úmido, sem a lápide...

– Vês? – disse ela. - Olha bem para não esqueceres!!

Gritei mais uma vez, o mais alto que pude:

– Não, o meu amado não! Não vais jogá-lo nesta gaveta imunda! Socorro! Ajudem-me!

Ela invocou, então, os espíritos imundos e putrefatos. Eles fizeram um circulo e riam, riam muito. Eu chorava. Chorava desesperadamente. Sentia dores terríveis no corpo e na alma!

Fui jogada com terrível violência para dentro da capela mortuária. Eu chorava. Ela ria. Ela e os seus espíritos imundos e putrefatos. Largou-me bruscamente na entrada da sala do velório e postou-se na minha frente, não me deixando passar.

– Deixa-me! Deixa-me! Deixa-me ver meu amado e chorar meu luto!! –

Ela ria ainda mais. Fizeram uma roda em volta de mim e zombavam, rindo de minha tristeza inconsolável!

Até que, após momentos intermináveis, disse-me:

– Passa! Diverte-te!

Fui passando entre as pessoas e consegui chegar até o caixão. O rosto estava coberto. Destapei-o...

Deus!! Era eu que estava morta no caixão!!!...

Meu amado, de preto, chorava, sentado, inconsolável... e uma mulher linda e elegante tentava consolá-lo... Uma mulher loura, muito loura, impecavelmente vestida...

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No outro dia, no Obituário do Jornal da cidade, havia uma foto de mulher. Abaixo da foto: “Professora de Filosofia morre em um incêndio ontem à noite, em sua casa. E seu marido, também professor, desaparece, misteriosamente, após o sepultamento da esposa.”

Dias depois, quando os familiares foram prestar as últimas homenagens à falecida, ao chegarem em frente ao túmulo, ficaram lívidos: junto à fotografia da Professora, havia uma outra foto: a foto de seu esposo! E, ao lado do nome deste, com a mesma data de falecimento, haviam escritas, com sangue, as palavras: “Sempre juntos. Não tenhas medo. Estou aqui!”

Um ano depois, quando os parentes mandaram rezar missa de um ano de falecimento, foram até o túmulo, colocar flores. Lá chegando, encontraram, na floreira, plantadas, não se sabe por quem, duas roseiras, uma vermelha e a outra branca, que cresceram entrelaçadas, cobrindo quase toda a lápide, deixando à vista apenas as duas fotografias.

Mais um ano se passou e, no sanatório da cidade, uma mulher loura, muito loura, ria sarcástica e desgraçadamente em uma camisa de força...

FIM

[NOTA: Quaisquer semelhanças com fatos ou pessoas, mortas ou vivas, são mera coincidência.]

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 28/01/2008
Reeditado em 21/09/2009
Código do texto: T835821
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