Último Colóquio. (Parte 2)
Último Colóquio. (Parte 2)
Quando as portas duplas se abriram, revelaram uma ampla biblioteca. Livros antiqüíssimos estavam dispostos nas estantes que forravam todas as paredes do grandioso salão. Um odor estranho e repulsivo pairava e impregnava o cômodo. Notou que no centro da pequena mesa de leitura repousava uma bandeja coberta com tampa de prata. Era dali que vinha o cheiro. Sentou-se na poltrona de veludo carmesim mofado e levantou a tampa cuidadosamente, depois largando-a, fazendo com que caísse ruidosamente no chão, causando um estrondo que ecoou por toda a mansão.A bandeja continha um grande bife, de carne podre e enegrecida por baixo da grotesca capa de minúsculos vermes brancos.
O vômito veio-lhe a garganta e ele não pode segurar, e o nauseante cheiro da golfada misturou-se ao da carne, praticamente expulsando-o da sala, e saindo dela, enxugou a boca com a manga da camisa preta.
Com o canto do olho, avistou um vulto entrando em uma das portas do corredor do lado esquerdo da escadaria, correu para a porta que jurou ter visto fechar, tocou a maçaneta e girou-a, mas deteve-se, enregelado pelo seu nome sussurrado bem atrás de si. Olhou em volta, sentindo o coração palpitante fazer-lhe tremer o corpo todo, as têmporas latejando e a adrenalina fluindo abundantemente, fazendo seus tímpanos zumbirem. Virou-se e caminhou lentamente até a porta mais próxima de suas costas e antes mesmo de tocá-la seu nome foi sussurrado mais uma vez atrás de si.
Era impossível isso, ou alguém, ou alguma coisa estava fazendo com que sua sanidade se esvaísse muito depressa. Abriu a porta imediatamente atrás de si e um cheiro de mofo e umidade escapou pela fresta aberta. Ignorando o calafrio que percorreu sua espinha, entrou na sala, e o que viu não era uma sala, mas uma escadaria longa e descendente, iluminada por tochas. Depois de muito hesitar, resolveu descê-la. Quando pôs o primeiro pé no primeiro degrau da escada, ouviu claramente por trás de seu ouvido direito o sussurro dizendo-lhe:
-Não desça.
Aquilo o assustou, e, por instinto, desceu a escadaria o mais rápido que pode. As chamas das tochas na parede tremiam com o deslocamento de ar provocado pela sua passagem. O coração parecia estar batendo em sua garganta e o sangue e a adrenalina faziam seus olhos saltarem e sua cabeça latejar. Ele desceu a escadaria por um bom tempo, e quando chegou ao seu final, o que viu foi um largo e alto arco gótico, como aqueles de seus livros de arquitetura. Com medo de que o sussurro o seguisse, entrou pelo pórtico e viu um amplo salão, com aparelhos de tortura, estantes de livros e armaduras, tudo disposto de forma tortuosa e displicente, destacando-se do resto da mobília do cômodo um escuro trono ao fundo.