CICLO CIRCADIANO - fim
A pandemia de infecundidade ocasionada pelas mudanças climáticas se alastrou por todos países, e a humanidade caminhava velozmente para sua fatal extinção. Homens e mulheres na tentativa inútil de reprodução, passaram a participar de orgias, bacanais, praticando sexo em grupo em praças públicas, trocando de pares, tomando altas doses de hormônios, esperando produzir um herdeiro, resultando numa degradação moral e agravamento da situação com a transmissão de doenças venéreas como sífilis, gonorreia, vírus HIV, tricomoníase, herpes genitais. Como nenhuma gravidez acontecia, aumentava a sensação de fracasso e inutilidade na natureza. Para preencher a falta de crianças e bebês eram adotados bonecos de silicones e robôs humanoides, sendo batizados com nomes e registro em cartório, ocasionando conflitos afetivos, e transtornos de personalidade maníaco-depressivas. Os psiquiatras escutavam os relatos dos pacientes :
— Para que serve um homem e uma mulher se é incapaz de ter filhos ?
— Os parquinhos estão vazios, sinto falta dos risos e brincadeiras das crianças. Eu queria ter um neto antes de morrer mas já perdi a esperança.
— Creio que seja uma praga enviada por Deus. Existem muitas teorias da conspiração afirmando que o Diabo é o responsável pelo surto de infecundidade humana.
— Issa é a pior desgraça. Fábricas de brinquedos foram fechadas, lojas de roupas infantis, de doces, não existem crianças, não se comemora mais o Natal, nas cidades restam muitas casas vazias e abandonadas. A Terra ficará desabitada, virada num gigante cemitério de ossos, povoada por abutres sinistros.
A ilha de Madagáscar, é um bioreservado da Unesco. No instituto de Ciências Biológicas e Genéticas, os cientistas estouravam uma champanhe, comemorando a criação in vitro de uma nova larva. Numa grande estufa com árvores Bonsais, pequenas larvas se moviam pelas folhas, expelindo um pó branco, cobrindo as folhas como neve. Um deles usando um aspirador manual recolheu a fina farinha num invólucro. O composto de proteínas tinha sabor adocicado. Agora só faltava testar se as larvas iriam sobreviver e se adaptar na natureza.
Eles distribuíram as larvas pelas árvores dum bosque e retornaram no dia seguinte. As árvores estavam cobertas pela fina camada do pó. Aquela farinha significava a redução da fome mundial, podia ser usada para massa de pão, pizza, sopas, mingau para crianças e idosos. Assim em pouco tempo as larvas eram criadas por agricultores, a farinha recolhida para misturar na ração e alimentar os animais, também como fertilizante do solo. Latas de farinha eram distribuídas grátis em restaurantes, padarias, farmácias e mercados. O poder revigorante do pó fabricado pelas larvas aumentava o sistema imunológico, se manifestando na reprodução humana, combatendo a pandemia de infertilidade. A farinha batizada como "Maná" impediu a extinção da humanidade. Logo foi incluída na farmacologia em cosméticos, pomadas, soros e cremes rejuvenescedores da pele. Depois de algum tempo passaram novamente a nascer bebês robustos e saudáveis, para alegria dos pais e alívio de todos viventes.
Na maternidade da clínica de obstetrícia, as enfermeiras sorriam satisfeitas, vendo todas as caminhas do berçario ocupadas, depois de ter ficado tanto tempo vazias.
Lá fora num parque de diversões a gritaria das crianças brincando, soava como música espalhando alegria pelos ares.
FIM
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