UM DOCE
Antonio já nem sentia mais firmeza nas pernas, tamanha fome que sentia. O último naco de pão que conseguira terminara há três dias. As lixeiras daquele bairro proletário sustentavam muita gente. Chegava a ser desleal a concorrência, a fome passeava pelas ruas como se uma imperatriz fosse e o desalento acompanhado da desesperança, lhe faziam a côrte.
Arrastando seus passos mais um pouco, as narinas pouco seletivas, sentiram um adocicado cheiro. Vinha de uma prateleira de uma lojinha, haviam tantos que Antonio imaginou que se fosse bem rápido, ninguém perceberia a falta de um apenas e ele sobreviveria mais uma noite. Só que um homem viu e saiu gritando atrás dele com um pau na mão.
A fome tolhia os seus passos e logo o homem nervoso o alcançou, bateu tanto no menino que suas costelas estalaram, a vista dele devia estar turva por causa do sangue que escorria da fronte e ele mal se mexia. Poucos minutos depois, uma moça (testemunha da agressão) respondia para um policial que as últimas palavras do menino foram
- Era só um doce